28/12/2008

PSSST!

A falta que faz um adjectivo…
Desde já aviso que esta crónica é séria. A 21 de Novembro, no telejornal da RTP1, foi afirmado que o último grande sismo em Portugal tinha sido em 1969, em Lisboa. Quedei-me incrédula. Quando finalmente consegui juntar o maxilar inferior ao superior, decidi enviar um e-mail ao Provedor do Telespectador, assinalando a falta histórica e pedindo que a verdade fosse reposta. No dia 26 recebi um e-mail que, após o intróito de agradecimento, dizia “No entanto refira-se que o grau de intensidade do sismo de Lisboa em 1969, foi de 7.9 na escala de Richter, por isso apontado como sendo o maior sismo dos últimos anos em Portugal”. Tal qual. Perante isto, respondi, entre outras coisas, que “Dizer que foi o último grande sismo porque teve 7.9 (contra os 7.2 do de 1980) é pouco […] acrescentem o adjectivo «continental» […] e escusamos de nos lembrar com pesar dos 71 mortos e mais de 400 feridos do terramoto da Terceira.”
Durante dias ansiei por uma resposta do gabinete do Provedor. Nada. Para compensar, mergulhei em investigações. Na Internet, o evento de 1969 é considerado um sismo, com magnitude entre 6.5 e 7.5, epicentro a cerca de 200km a sudoeste do Cabo de São Vicente, sem danos materiais e o último grande sismo a afectar Portugal continental. Lá está, o adjectivo que falhou. O evento de 1980 é considerado um terramoto, atingiu 7.2, teve epicentro a 35km a SSW de Angra do Heroísmo, matou directamente 71 pessoas, destruiu mais de 15.000 edifícios e desalojou 15.000 pessoas.
Creio que não devemos levar essas coisas a peito. É como o ponto mais alto de Portugal: segundo grande parte dos telejornais, é a Serra da Estrela. A esses, aconselho, para o Novo Ano, que pespeguem na divisória do escritório um belo calendário com imagens dos Açores:
2.351 metros delas.
Publicado no Açoriano Oriental a 28 Dez. 08

25/12/2008



Humor natalício... mais para ver aqui, um dos meus sites preferidos, a New Yorker. BF!

22/12/2008

PSSST!


Língua de vaca
Não sei se já viram uma recente publicidade televisiva que parte do seguinte pressuposto: “se as nossas [deles] vacas falassem…”
Segundo o anúncio, diriam maravilhas sobre o leite que produzem — logicamente! Segundo a sabedoria de um certo adolescente de 16 anos, elas diriam o quê? Para nos calarmos.
Incorrendo no risco de igualmente me mandarem calar, acho que faz muito mais sentido. A comunicação, hoje em dia, está cada vez mais pejada de ruído. Sejam novos conceitos ou apenas a ânsia de vender, comunicar é cada vez mais um caminho minado para, às vezes, o nada. E se esse nada não se transformar num saldo negativo, já pode considerar-se uma pessoa cheia de sorte.
Um dos novos conceitos, muito em voga, mas que creio mal apreendido, é o “politicamente correcto”. Mas sabem o que quer dizer? Hein? A expressão não serve para amortecer choques ou embelezar discursos retrógrados. O seu objectivo é neutralizar, em termos de linguagem (por isso o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem passou a ser o dos Direitos Humanos…), a discriminação racial ou sexual. Imagino que a religiosa também. Mas abusar do politicamente correcto pode levar ao campo oposto: é tão, tão, tão politicamente correcto que acaba por cair, novamente, na discriminação. Por excesso de zelo. Por isso, as crenças de cada um são as crenças de cada um.
Sendo assim, volto às vacas. As nossas. Não sei o que nos diriam se ganhassem o dom da fala, mas imagino que seria algo muito sensato. E divertido. Realmente, faz falta sorrir mais…

P.S. — aceitam-se sugestões, críticas e ideias; basta enviá-las para o endereço electrónico pssstcronica@gmail.com. Boas Festas!

Publicado no Açoriano Oriental a 21 Dez 08

18/12/2008

Truncheon


"My girlfriend joined the police without telling me. I didn't find out for two years, and then I came across a truncheon in the magazine rack. Confronted with this evidence she blushed, stammered and looked so pretty that I forgave her. She put on her uniform, and it was like falling in love all over again. I kissed her, and she kissed me. Together we walked into the bedroom. I began to undress. The moment I took down my underpants she arrested me for indecent exposure. She gave evidence against me in court, and I served six months. She didn't visit."


Este é um dos 101 contos de Dan Rhodes em Anthropology and a Hundred Other Stories, um livrinho delicioso de um autor que eu desconhecia mas que tem feito furor no Reino Unido.

17/12/2008

Prémio

É com imenso orgulho que coloco aqui este apontamento (visto no :ilhas) sobre os prémios literários do PEN Clube Português, que este ano, na categoria Ensaio, distinguem António Machado Pires, meu professor dilecto, pelo trabalho Luz e Sombras no Século XIX em Portugal (IN-CM).

15/12/2008

PSSST!


Cota, eu?
Há dias, um amigo e leitor encontrou um erro numa das minhas colunas. Pelo acontecido — por este e outros erros ou gralhas —, mil desculpas. Flagelo-me aqui, sentida e cabisbaixamente… E sem querer desculpar-me, a verdade é que tenho muitas dúvidas. Entre acordos ortográficos e erros comuns tornados norma por uma espécie de usucapião, uma pessoa baralha-se.
Por isso mesmo, dei-me outro dia conta que não tinha a certeza absoluta de todos os sentidos desta palavra: cota? Quota? Quando? Quem? A razão pela qual precisei da palavra, já vos digo; mas deixem-me antes dizer o que descobri.
“Cota” pode ser inúmeras coisas, das proveitosas às inúteis: pode ser uma armadura medieval (a famosa cota de malha) ou uma espécie de gibão; já foi uma unidade de medida na Índia; é o lado oposto ao gume de um utensílio cortante (estas duas eu não sabia!); e ainda um número para classificar peças num processo, um apontamento na margem de um livro, uma diferença de nível geométrico, a distância de um ponto a um plano horizontal de projecções (imensa matemática…), uma medida em desenhos técnicos, um quinhão (ou quota), podendo até — se quiser impressionar os amigos — falar de uma cota piezométrica. Sem esquecer, claro, “cota” de origem angolana, moderno vocábulo usado pelos adolescentes para designar uma pessoa mais velha. “Quota” é um quinhão, uma contribuição, a parte de um capital ou uma prestação, como as quotas de mercado ou a quota-parte.
Agora, a razão por que me lembrei disto? Porque queria cotar umas quotas. E não era capaz. Deve ter sido porque, naquele momento, os meus neurónios, tais como os deputados da nação, sofriam de absentismo!

Publicado no Açoriano Oriental a 14 Dez 08

14/12/2008

Ouch!



(excerto de raríssima síntese noticiosa de 1888, em Londres) ... e hoje Dunlop patenteou o pneu, o deprimido Van Gogh cortou parte da sua orelha esquerda, Jack o Estripador voltou a atacar as prostitutas de Londres e o norte-americano Orson Welles publicou o conto "O Príncipe Feliz". Vamos agora às notícias do desporto...

"O Príncipe Feliz" foi escrito por Oscar Wilde. Pronto, não faz mal, também começa por OW. Exacto. Não faz mal. Até porque OW também significa Obwalden, um cantão da Suíça; um nome chinês; o código IATA para Executive Air; os antigos alunos de qualquer um destes colégios britânicos - Wellington, Westminster e Winchester; ou uma onomatopeia para denotar dor. Como ouch!

12/12/2008

09/12/2008

Santinho!


O único som que tenho emitido nos últimos três dias. Este e "argh"!

08/12/2008

PSSST!


Assado, frito e cozido…
E eu que pensava que, com o tempo, haveria de passar! Mas nem pensar, a moda pegou forte. Há bengalas que duram mais que outras — bengalas linguísticas, pois pelas que ajudam a caminhar tenho eu grande respeito. E não há quem se livre!
Já repararam como as conversas, ultimamente, começam quase sempre da mesma forma? Principalmente se a intervenção for fruto de uma pergunta. Seguem-se alguns exemplos, perfeitamente plausíveis:
— Quando saímos desta crise? — pergunta o jornalista ao ministro das finanças. Diz o ministro, com ar sabedor — É assim…
— Professor, porque é que se pensa que o trabalho de Magritte evidencia um estilo mais representativo do surrealismo? — pergunta o aluno (pronto, é um aluno culto, também há). Responde o professor — É assim…
— Foi falta, foi falta! — vocifera o treinador da equipa. Resposta do árbitro — É assim… (provavelmente acompanhada por gestos, para ficar mais expressiva).
Aos mais modestos basta um despretensioso “é assim”; os mais criativos podem sempre optar por inúmeras combinações: isto é assim; pois é assim; olhem, é assim; então é assim; porque é assim; ah, é assim; claro, é assim; ó meu caro amigo, é assim…
A necessidade de recorrer a bengalas linguísticas é inevitável e universal, desde o clássico “portanto” até ao simples “pois”. No presente caso, sinto que a bengalita condena o discurso, no mínimo, a um tom expositivo; na pior das hipóteses, a um tom imperativo. Ora, discursos condenatórios já temos de sobra, discursos absurdos provavelmente ainda mais. Precisamos é de discurso livre. É assim ou não?
Publicado no Açoriano Oriental a 7 Dez. 08

04/12/2008

Change, We Needed

Christmas cleaning... porque não é Primavera!

03/12/2008

PowerShopping


Pois o Natal tanto pode ser a época de solidariedade, partilha, dádiva... como de tolice, frenesim comercial e consumismo. Pode realmente ser o que cada um quiser, para parafrasear um velho chavão. E a crise? Não chegou a todos! Na Amazon UK descobri uma engenhoca chamada Powerball que, dizem os do marketing da dita coisa, pode ser boa para exercitar os braços de qualquer jogador de ténis, squash, golfe, ou tocador de guitarra, de bateria, pessoal da escalada, etc. Para sumarizar: quem precise de braços potentes. E que tal um exerciciozinho à maneira antiga? Não? Está demodé? Isto até me fez lembrar os Power Rangers ou os Pokemon, heróis de eleição de uma infância já ida do meu filho...

01/12/2008

PSSST!


Sexta-feira passada fui infectada. Um vírus horroroso, disfarçado do que não era (um programazito simpático), entrou no meu computador e fez estragos. Não no computador, graças aos deuses da tecnologia e à manutenção via controlo remoto. Em mim. Porque estive cerca de 4 horas de mãos amarradas e rato inerte: um sofrimento atroz! Não podia trabalhar. E não podia escrever esta coluna, não podia verificar os e-mails, não podia aceder aos blogues habituais; não podia, numa palavra, mitigar o vício do computador.
E então ocorreu-me — será que é um vírus que ataca alguns comentadores de blogues?
Creio que seria interessante aprofundar o caso; apelo aos cientistas para que procedam ao estudo.
Posso até já adiantar alguns sintomas: perda de memória (não se lembram do seu nome e assinam “anónimo” ou “anonymous”, que deve ser uma perda de memória inglesa); confusão de identidade (assinam com nomes não constantes do próprio BI, assumindo um ou mais alter-egos); disfunção lexical (gravíssima perturbação que impede a escrita correcta da própria língua, levando ao uso errado do “Ç”, à preferência por “á” em vez de “à” ou até à colocação do “H” em lugares nunca antes vistos); alteração profunda de referências (comummente conhecida por «misturar alhos com bugalhos»); e, na fase final, assomos de violência.
É uma apoquentação! Já não nos bastava o ritmo acelerado da vida moderna, ainda temos de estar atentos ao que nos entra computador dentro e nos afecta (provavelmente por radiação), contaminando a comunicação. WsLiybvr7ah‼
Publicado no Açoriano Oriental de 30 Nov 08

27/11/2008

Mudam-se os tempos...


Ontem a minha avó materna falava-me da 1ª Guerra Mundial. Isso mesmo, a primeira! Ela nasceu em 1908 e quando a guerra terminou tinha 10 anos. Daí ter lembranças bem vivas desses tempos terríveis. Lembra-se de, no dia 4 de Julho, um submarino alemão ter bombardeado - aliás, ressalvou ela, não foram bombas, foram granadas! - a cidade mas que, por falta de pontaria e por acção do Orion, um barco de guerra aqui estacionado, os obuses atingiram antes a Fajã de Cima, que, na altura, era longe, longe da cidade e ficava em pleno campo!
Fiquei a pensar no que será ter 100 anos, ter assistido a tantas guerras, a tanta evolução - do rádio para a televisão para a Internet, dos zepelins para o avião para as aeronaves, da morte por tuberculose para a morte por SIDA, da iluminação a gás para a electricidade para as energias renováveis... tanta, tanta mudança.
Ontem lembrei-me do meu avó paterno, que combateu na 1ª Guerra Mundial, nas trincheiras francesas, e de lá trouxe maleitas e memórias que nunca passaram.
Nós, que vivemos para o imediato, que não temos tempo para fazer um verdadeiro balanço da nossa vida, que queremos sempre mais e mais rápido e mais fácil, que será dito de nós daqui a 50 anos? 100 anos?
Ontem o meu filho fez 16 anos. Sweet sixteen. Para ele, a 1ª Guerra Mundial é uma relíquia das lembranças da bisavó. Uma guerra de carolas, de heróis de BD, de filmes da Disney.
Ontem senti que pertencia a geração nenhuma. Será que estou a ficar velha?

24/11/2008

PSSST!


De flores e peixes
Bem sei que a flor em questão não faz parte dos nossos cenários habituais. Não se encontra à beira da estrada, não pontilha os campos de azul nem cobre encostas de amarelo. Mas existe em profusão. De cor e variante. Chama-se prótea. Exacto. PRÓ-TE-A. Com acento no Ó. Não é proteia, próteia ou quejandos. Se assim fosse, que chamaríamos àquele simpático peixinho de carne branca e sabor tão popular na nossa cozinha? Abróteia? Tinha graça: ó Sr. Luís, prepare-me aí uma abróteiazinha cozida com couve e batata! É de hoje, a abróteia?
Prótea e abrótea assemelham-se apenas no facto de serem palavras esdrúxulas e de terem terminação semelhante. Aliás, quando falamos, é comum colocarmos o som de “i” no meio de sílabas cujos sons vocálicos sejam “e-a”; fica mais fácil. Como “vaguear”, “passear” ou “laurear”. A pevide… ou não.
Então, fica decidido: prótea é o género-tipo de uma planta ornamental da família das proteáceas. Palavra que não deve ser confundida com protéases, algo de muito complexo ligado às enzimas, proteínas e aminoácidos.
Por esse mundo fora, «protea» (à inglesa) pode também ser o nome de um carro criado nos anos 50 ou de uma equipa de críquete, tudo na África do Sul; ou de um asteróide, o 9313 Protea, mais precisamente, lá para os lados da cintura principal.
E o masculino de prótea não é próteo: este é o adjectivo que se usa quando se quer designar algo ou alguém que muda facilmente de opinião ou forma. Digam lá se não seria um epíteto fantástico!

Publicado no Açoriano Oriental de 23 Nov 08

18/11/2008

Açores, um olhar outro

Azores

Great green ships
themselves, they ride
at anchor forever;
beneath the tide

huge roots of lava
hold them fast
in mid-Atlantic
to the past.

The tourists, thrilling
from the deck,
hail shrilly pretty
hillsides flecked

with cottages
(confetti) and
sweet lozenges
of chocolate (land).

They marvel at
the dainty fields
and terraces
hand-tilled to yield

the modest fruits
of vines and trees
imported by
the Portuguese:

a rural landscape
set adrift
from centuries;
the rift

enlarges.
The ship proceeds.
Again the constant
music feeds

an emptiness astern,
Azores gone.
The void behind, the void
ahead are one.

John Updike

Qualquer dia publico aqui a tradução de Jorge de Sena.

17/11/2008

PSSST!

E nos Açores, chove!
Isto de se ser açoriano é realmente muito especial.
Para começar, temos direito a, pelo menos, 3 entradas nos dicionários. Até podem ser 4! Passo a explicar: AÇORIANO com um “i”, pois essa é a grafia mais correcta para o adjectivo que determina a nossa origem; em alguns dicionários ainda se encontra o antigo AÇOREANO, com um “e”, pois até aos anos 20 do séc. XX as duas grafias coexistiam; como variantes menos conhecidas, as entradas AÇORENSE e AÇORENHO.
Mas não é só por isso que somos especiais. Numa época em que as oscilações climáticas mudam a face do planeta, nós temos sempre chuva. Nunca falta água nos Açores. Basta ver os telejornais nacionais. Sim senhores, podem vir aos Açores à vontade, água há sempre, seja para beber, para lavar os dentes, para molhar os pezinhos. Ou para meter a pata na poça. Pudera, numa área de 2.333 km2, no meio do Atlântico, num clima com as nossas características, há-de sempre chover em algum sítio, não é? E se a isso juntarmos o anticiclone, bendito mensageiro de bom tempo, fenómeno invejado nas terras do continente, ainda melhora. Porque eu acho que o nosso anticiclone não influencia apenas o tempo. Também mexe com a disposição. Por exemplo, acham que o Presidente da República tem estado sob a influência de uma frente fria? Sabemos que, durante o inverno, um anticiclone pode criar inversão de temperaturas e manter névoas no ar durante largos dias. No verão, não faço ideia. Com o aquecimento global, tudo é possível.
Mas não nos podemos queixar. Seria muito pior se (segundo rezam as histórias da História), em vez da ave açor, tivessem os navegadores reconhecido o milhafre — seríamos hoje os milhafrenses!
Publicado no Açoriano Oriental a 16 Nov 08

10/11/2008

PSSST!


Dupond e Dupont
Se é uma figura de estilo e linguagem, se é um vício habitual ou se é as duas coisas, a verdade verdadeira é que o pleonasmo veio para ficar para sempre e de vez.
Uf! E para completar esta torrente de pleonasmos, só me faltou colocar a palavra “ambas”. Compunha o ramalhete… para pior! Na verdade, não precisava praticamente de metade das palavras usadas, pois uma figura de estilo ou de linguagem é exactamente igual; um vício tem de ser um hábito ou então não é vício; a verdade é verdadeira; e ficar para sempre ou de vez é o mesmo!
Um pleonasmo é um pouco como o engraçadíssimo par Dupond e Dupont, das histórias de Tintim: fica tudo em duplicado. É uma redundância, propositada ou não. Se for, é um pleonasmo literário: “Ó mar salgado” de Pessoa é um pleonasmo, pois um mar só pode ser salgado (se tiver água doce é um lago); na literatura, o pleonasmo é usado para reforçar uma ideia de um texto. Se não for propositado, é resultado de vícios de linguagem, como “subir para cima”, descer para baixo”, “hemorragia de sangue”, “surpresa inesperada” ou “elo de ligação”.
Nada de mal acontece a quem recorre ao pleonasmo: não há punições, apenas se sujeita ao riso dos outros, desde o tique nervoso que eleva o canto dos lábios até à gargalhada desenfreada. Por exemplo, dizer que se tem uma ferida purulenta e cheia de pus é um pleonasmo, porque são exactamente a mesma coisa: o Dupond diz “purulenta” e o Dupont diz “cheia de pus”. «Eu diria mais»…
Publicado no Açoriano Oriental de 9 Nov 08

06/11/2008

Lembrei-me disto!

No workshop de escrita criativo conduzido pelo Nuno Costa Santos no "Rotas", uma das tarefas foi escolher 10 palavras preferidas. Escolhi: ameba, atilho, atroz, clarabóia, clausura, mnemónica, onomatopeia, oscular, placebo e resquício. Não me perguntem porquê, foi do que me lembrei. A tarefa seguinte foi escrever um pequeno conto onde as 10 palavras fossem utilizadas. Hoje lembrei-me, com saudade, desse workshop e decidi publicar aqui o conto.
Um Acordar Atroz
Naquele dia sentia-se muito pequeno.
Acordara demasiado cedo. Ainda não era hora de entrar na rotina. Não, não poderia ainda levantar-se, dobrar as cobertas da cama para trás em harmónio, colocar os pés no chão, calçar os chinelos, ir à casa de banho, levantar a tampa da sanita…
Não. Teria de esperar mais um pouco para que a luz do dia inundasse a clarabóia ao fundo do quarto e lhe desse o sinal esperado para levantar-se, dobrar as cobertas da cama para trás em harmónio, colocar os pés no chão…
Torceu as mãos, como se assim enxugasse aquele nervoso miudinho. Estava realmente a sentir-se estranho. Pequeno. Minúsculo. Microscópico. Uma ameba.
A mãe fora muito clara quando dissera que a função começava às cinco. Pontualmente. “Sharp”, como ela dissera, em mais um assomo de cosmopolitismo caquéctico.
Para afastar a perturbação, voltou a pensar na sua rotina. Era como uma ladainha, tão reconfortante como as que ouvira em criança quando ia à igreja com a avó, um cântico que o embalava, poderosas onomatopeias de devoção.
Os quadrados da luz do dia já resplandeciam no chão do quarto.
Era agora.
Sentou-se. Dobrou as cobertas da cama para trás em harmónio. Colocou os pés no chão. Calçou os chinelos. Rumou para a casa de banho. Levantou a tampa da sanita.
O estilhaçar do toque do telefone paralisou-o.
A clausura quebrada, a rotina escangalhada, a mnemónica dos gestos perdida.
Fechou a tampa da sanita. Reatou os atilhos do pijama. Deu meia volta e estacou diante do telefone, que continuava a tilintar estridentemente.
Seria a mãe, com um pedido extravagante amenizado por um frívolo ósculo final? Seria uma melíflua voz desconhecida, tentando convencê-lo a aderir ao produto Z? A um qualquer placebo que caucionasse a sua felicidade?
Com um resquício de coragem, atendeu.
Era engano.

04/11/2008

A Corrida




Tudo começou em 1973, com a largada da regata Whitbread a partir de Portsmouth. Esta regata à volta do mundo durou 144 dias e incluiu 17 barcos. Em 2001, a Whitbread transforma-se na Volvo Ocean Race que, hoje em dia, é um veneradíssimo evento dos desportos náuticos. Nas palavras dos organizadores, "The Volvo Ocean Race is an exceptional test of sailing prowess and human endeavour which has been built on the spirit of great seafarers - fearless men who sailed the world’s oceans aboard square rigged clipper ships more than a century ago." A edição 2008-2009 dura 9 meses (largada em Alicante em Outubro passado, chegada em São Petersburgo, Junho de 09), serão percorridas 37.000 milhas marítimas por um total de 8 embarcações.
Mas há mais! Se, para além de acompanhar a Volvo Ocean Race pelo site ou pelo canal específico, quiser navegar também, pode entrar na regata virtual e acompanhar os concorrentes no terreno. Melhor dizendo, nas ondas! Se ganhar, recebe um Volvo C30. Então, que tipo de navegador é você?

03/11/2008

PSSST!


Apesar de Ponta Delgada não ser Lisboa, Porto ou outra qualquer cidade igualmente azafamada, já pensou que passamos, no trânsito, larguíssimos minutos das nossas vidas? Sem contar com momentos de “interessante” voyeurismo (e que incluem aplicação de cosméticos, asseio matinal ou disciplinação de menores), as horas dispendidas ao volante de um automóvel justificam falar do assunto.
Quantas vezes já pensaram usar mais a bicicleta? Mais exercício, menos combustível, menos poluição… bem, talvez menos poluição, porque as buzinadelas e os aceleramentos que os automóveis fariam para se livrarem de si seriam tão poluentes quanto. Tudo porque não há ciclovias que sequer justifiquem o trabalho de espanejar a dita bicicleta, arremessada para um canto da garagem.
E o que será mais perigoso: uma passadeira normal, com os seus tímidos risquinhos pintados no chão ou uma passadeira elevada? Tendo em conta o voo planado de condutores mais acelerados e o efeito cardíaco que isso pode ter no peão, fica aqui a premente dúvida… E em dias de chuva, em que esta se transforma em manteiga assim que toca o paralelepípedo de calcário, ainda mais planado há-de ser o voo.
Que considera mais flagrante — um condutor de uma viatura das forças policiais (em andamento normal, como todos nós) a falar ao telemóvel imediatamente à sua frente ou imediatamente atrás de si? Sinceramente, eu prefiro à minha frente, sempre posso ir controlando melhor a coisa.
Creio que estas são questões pertinentes. E se forem impertinentes, tanto melhor…
Publicado no Açoriano Oriental de 2 Nov 08

27/10/2008

PSSST!


étudojunto?comousemhífen?


vamosláaverseconseguemdecifrarestaslinhitas.não?pudera,semcontarcomoluxodeumapontuaçãomínima(nãoconsigoresistir-lhe)nãoestouafazeroquedeveria:carregarnatecladeespaço.zeroespaços.oresultadoatétemgraça.
E porque vos submeto a esta tortura? Para serem solidários comigo e sofrerem das mesmas agruras que sofro quando vejo casos como “concerteza” ou “benvindo”. Não havia tecla de espaço nesses computadores? Sabem, aquela tecla esticadinha entre o ALT e o ALT GR?
Com certeza é uma locução adverbial demonstradora de concordância e que, como qualquer locução que se preze, tem duas ou mais palavras. No segundo caso, o que faz falta é a tecla do hífen, logo ali na vizinhança da outra… Bem-vindo ou bem-vinda é uma palavra justaposta — portanto, obrigatoriamente ligada por hífen. Portanto, nada de “benvindo” ou de “bem vindo”, como já vi num espaço comercial da nossa cidade: ou somos bem-vindos ou somos coisíssima nenhuma. A propósito, e em inglês, welcome é tudo junto e só com um L.
Isto das teclas de espaço e de hífen permite extrapolar para outro campo. Porque, na verdade, a língua é como a vida real. Tal como as palavras precisam de espaços para se poderem ler os seus significados, também nós precisamos. De dar e receber espaço q.b. para viver, verdejar, florescer; e q.b. para não sentirmos solidão. Um lugar-comum, eu sei, mas não custa lembrar. E descansem, que isto da palpitante veia poética é raroacontecer.olhem,queremverqueseescangalhouatecladeespaço?...
Publicado no Açoriano Oriental de 26 Out 08

26/10/2008

Que saudades de um bom folhetim!



Alexander McCall Smith, nascido no Botswana em 1948, é professor de medicina forense, uma autoridade internacional em genética, autor publicado e o consultor para a UNESCO e para o governo britânico em bioética. No dia-a-dia. Porque Alexander McCall Smith é também escritor, criador de ficção policial, como The Nr. 1 Ladies Detective Agency Series ou The Sunday Philosophy Club Series, de vários contos e de muitas histórias infantis.
No site do "Telegraph", McCall Smith tem publicado (já vai em 30 episódios) um romance em episódios, que tanto podem ser lidos como escutados (leitura dramatizada por Andrew Sachs, o Manuel de Fawlty Towers); ou seja, uma mistura de folhetim com rádio novela. A escrita de Alexander Mcall Smith é bem-humorada, perspicaz e ligeira, e Corduroy Mansions é disso um excelente exemplo. De notar as ilustrações de Iain McIntosh. Este é o primeiro romance online do autor, que aceita sugestões dos leitores à maneira que avança na história. Que rica ideia!


24/10/2008

Ontem à noite

Ontem à noite houve jazz no Teatro Micaelense, com Lee Konitz e Minsarah (um trio composto por Florian Weber, Ziv Ravitz e Jeff Denson).
Ontem à noite eu senti tudo isto: batuque tribal, rumor de árvore, numa bateria irrequieta e sensual; trinado rouco ou grito estonteante, o saxofone como um pássaro sábio que, apesar de maduro, ainda conhece o sabor da liberdade; do contrabaixo, um pulsar cavo, um ritmo cardíaco; e no piano as mãos acariciaram, harpejaram, dedilharam...
Ontem à noite eu senti e ouvi tudo isto.
E ontem foi apenas o segundo dia do X Festival de Jazz de Ponta Delgada.

22/10/2008

Que desânimo!


Há coisas que fazem a civilização (whatever it is!) recuar anos, décadas, no tempo. Continuo no séc. XIX e já não é por influência de Os Maias...

20/10/2008

PSSST!



Como um raio...
Não sei se é do calor húmido que por aí anda, se do rescaldo de um Verão carregadinho de festivais, concertos e espectáculos, ou se da crise, mas a verdade é que noto alguma apatia nas pessoas. Na verdade, estou a ser simpática: o pessoal está de rastos. Sem inspiração. Eu própria incluída.
Do que precisamos? De mais lazer? Ou será de laser? Segundo uma publicidade que vi recentemente no mercado regional, é de laser. Sabem, daquele que se pratica quando se vai de férias — deve ser porque as férias são tão rápidas quanto um raio e deixam sempre uma marca indelével na nossa memória!
Pois é, a confusão entre Z e S dá azo (com um Z, viram? Porque se for com um S, já será uma conjugação do verbo “asar”… ou um advérbio antigo equivalente a “sob”) a este tipo de situação. Outras haverá, com certeza, mas esta é das minhas preferidas. Então, quando se fala de ócio, descanso, passatempos, é com um Z ou com um S? Com um Z, claro. Vem do latim e lê-se acentuando a última sílaba. E o outro? O laser? Vem da Física. Exacto. É o acrónimo de Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation: LASER. E lê-se à inglesa, transformando o A num EI. Conclusão: quando vai de férias ou quando descansa, está num momento de lazer; quando falar de laser, está a referir-se a amplificação de luz.
E se vos der uma lazeira, combatam-na. Hoje é dia de votar.

P.S. — e para baralhar, pode ter um momento de lazer num Laser, desde que este seja um pequeno barco à vela.


Publicado no Açoriano Oriental a 19 Out 08

19/10/2008

2

Para além de ser bastante óbvio que estou a (re)reler Os Maias, as comparações entre o fim do séc. XIX e este princípio periclitante do séc. XXI não acabam...

"- Preocupação peninsular, filho - disse Afonso, sentando-se ao pé da mesa, com o seu chapéu desabado na mão. - Desembaraça-te dela. É o que eu dizia noutro dia ao Craft, e ele concordava... O português nunca pode ser um homem de ideias, por causa da paixão da forma. A sua mania é fazer belas frases, ver-lhes o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixá-la incompleta, exagerá-la, para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não hesita... Vá-se pela água abaixo o pensamento, mas salve-se a bela frase."
In Os Maias, Eça de Queirós, Ed. Livros do Brasil, pág. 259

Observação genial. E muitas vezes verdadeira. Aplicável a muita gente, myself included em ocasiões.

16/10/2008

Ainda dizem que a História não se repete...

"Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma das fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta - «cobrar o imposto» e «fazer o empréstimo». E assim se havia de continuar...
Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo, o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.
- Num galopezinho muito seguro e muito a direito - disse Cohen, sorrindo. - Ah, sobre isso, ninguém tem ilusões, meu caro senhor. Nem os próprios ministros da Fazenda!... A bancarrota é inevitável: é como quem faz uma soma..."
In Os Maias, Eça de Queirós, Editora Livros do Brasil, 2006, pág. 169

Não são de hoje estas palavras, são de 1888. E ainda dizem que a história não se repete? Pois...

13/10/2008

PSSST!



Vote já!
Esta coluna, caríssimos leitores (sim, porque tenho a esperança que seja mais do um!), tem versado o tema comunicação em geral, língua portuguesa em particular. E comunicação é um tema muito vasto, não é? Por isso, sem querer colar-me às eleições que aí vêm, não posso deixar de lançar umas ideias. É que este é o período, por excelência, para a reflexão, a introspecção e, claro, a decisão. Mas porque falta ainda tanto para o dia 19, proponho uma votação imediata. Aqui vai…
Vote na opção em que mais acredita e envie para mim.
5 Conduções Irritantes
Fazer a rotunda toda por fora
Os pulinhos das passadeiras elevadas
Parar no meio da via para conversar com os amigos
Andar no meio da via por haver carros nos passeios
Os carros das campanhas a debitarem musiquinhas fanhosas
5 Situações Irritantes
Esperar que a pessoa à sua frente na fila do Multibanco acabe de fazer 10 pagamentos, 3 depósitos e 1 levantamento
As gravações telefónicas enquanto se aguarda a ligação
Não ter trocos para o parquímetro
Os inquéritos, presenciais ou telefónicos
Os carros das campanhas a debitarem musiquinhas fanhosas
5 Sons Irritantes
Os toques de telemóvel, principalmente se forem das Spice Girls ou do Toy
Os apitos sinalizadores de marcha atrás
Mastigar pipocas e sorver bebidas durante um espectáculo
Música de elevador ou de parque de estacionamento em repetição até ao infinito
Os carros das campanhas a debitarem musiquinhas fanhosas

Pronto, fico então a aguardar. Pense bem, não se deixe influenciar e vote. Já.



Publicado no Açoriano Oriental de 12 Out 08

08/10/2008

Nem queria acreditar!

Por causa de um trabalho que estou a produzir, andei à procura na net de alguma espécie de cronologia da história recente de Portugal, algo que me ajudasse a localizar os eventos, para depois os pesquisar melhor. Procurei, procurei e nada... Mal mudei a terminologia, de "cronologia" para "timeline", encontrei imediatamente uma excelente e sucinta na página de... adivinhem lá quem... da BBC. Nem queria acreditar mesmo! E em sites portugueses? Esqueçam lá isso...

06/10/2008

PSSST!


Há caracóis!
Eu andava a fugir disto. Até porque é um clássico e já tem um lugarzinho de destaque no panteão. Dos disparates.
O melhor é concretizar. Por exemplo, cruza-se com alguém conhecido na rua e diz: olá, _____ tanto tempo que não te via. Que palavrinha coloca no espaço em branco? Há, à ou ah? Está a dizer que existe, está fazer uma contracção ou está a ter um ataque de espanto?
A coisa ainda se complica mais se nos reportarmos a textos onde, ao invés do “à”, nos deparamos com um “á”. Deixem-me dizer-vos desde já que isto não existe. A não ser em expressões como «á-bê-cê», não senhores, não há. É apenas uma miserável criatura nascida da confusão entre o acento grave e o acento agudo. Que já são, só por si, fonte de grande agitação. Cada um usa a mnemónica que quiser, mas posso dar uma ajudinha: grave inclina-se para a esquerda e agudo inclina-se para a direita. E para distinguir uns de outros: “há” é do verbo haver e significa, neste caso, “existir”, e a sua conjugação é impessoal, não sujeita a género ou número (por isso é que não “hão” caracóis!); “à” é a contracção da preposição A e do artigo definido/pronome demonstrativo A, e que encaixa que nem uma luva em «O António vai à escola» ou em «Dei um livro à Ana»; e “ah” é uma interjeição exclamativa.
Só para rematar, “às” é o plural de “à”, e não a mais valiosa carta de qualquer naipe. Esse (ou essa) será o “ás”. Do volante, da política ou de copas…

Publicado no Açoriano Oriental de 5 Out 08

04/10/2008

Há coisas fantásticas, não há?

Acho verdadeiramente extraordinário este SIM de Santana a Ferreira Leite para a CMLisboa! Mas as pessoas estão mesmo esquecidas dos disparates do homem? Read and weep...

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/

30/09/2008

PSSST!

Dentro e fora
Pois cá estamos nós outra vez! E calha mesmo bem esta coluna recomeçar na abertura da nova estação — na «rentrée», para os mais sofisticados — porque há uma frasezita que tenho visto afixada na montra de alguns espaços comerciais por inaugurar e que gostava de partilhar convosco: “ABRIMOS DENTRO EM BREVE”.
Sempre que a leio, oscilo entre o riso e a incredulidade. Acho cómico o facto de os autores da frase não se terem apercebido do trocadilho que criaram (acidentalmente, creio eu…) ao terem preferido a expressão “dentro em breve” para anunciar a abertura de um espaço comercial cujas portas, obviamente, se encontram encerradas. E fico incrédula por, passados estes meses de Verão, os autores da frase ainda não se terem apercebido do trocadilho que criaram.
Perguntas: só abrem dentro? Não abrem fora? Não vão ter esplanada? Já abriram fora e nós não demos por isso? E como é que nós, clientes, entramos? Só se entra, não se sai? «Ad infinitum»…
É claro que, gramaticalmente, a frase está correcta. A locução adverbial “em breve” e a expressão “dentro em breve” significam, essencialmente, daqui a pouco, num futuro próximo, brevemente. Ou seja: em breve. Sem querer repetir temas, não se deveria ter mais cuidado com o texto público, de carácter publicitário ou não, antes de se ter pespegado a frase em, no mínimo, corpo de letra 300? Já agora, quando abrem?

Publicado no Açoriano Oriental de 28 Set 08

19/09/2008

Lá vai mais um...

E pronto, não resisti a criar um blog. B-L-O-G!
Ideias, pensamentos, sensações, tolices, gostos e desgostos, todas as memórias que me deliciam, apoquentam ou emocionam.