29/06/2009

PSSST!


Absurdo número um
Navegando pela Internet, descobri um útil livro, em forma de dicionário, que expunha as tretas (tradução comedida da palavra original!) mais comuns com que os falantes da língua inglesa se podem deparar e como delas se defender. Depois descobri que havia mais livros do tipo. Essencialmente, todos eles expõem os eufemismos, as expressões falaciosas, os absurdos, etc. Como não sei o estado do mercado livreiro português nesse campo, proponho que comecemos já aqui a nossa própria lista de absurdo/tretas (numa palavra, coisas-que-não-conseguimos-compreender-por-mais–que-nos-esforcemos), por ordem de inspiração e não alfabética.
Quem começa? Eu? De acordo. Apesar de que me dava jeito alguém com experiência política aqui ao lado…
Colaborador — mas desde quando é que um empregado, ou seja, alguém cuja vida profissional é feita a trabalhar a tempo inteiro para outrem em troca de remuneração, é um colaborador? É um empregado, é um funcionário, tenha o cargo que tiver. E então uma pessoa desempregada? É um «descolaborador»? Fica a pergunta.
Desafio — quando empregue para significar uma «quase-impossibilidade», é um eufemismo. É claro que algo difícil de atingir pode ser desafiante, mas a ligação não é nem imediata, nem universal. O que geralmente fazemos quando somos confrontados com certos desafios? Um sorriso civilizadíssimo, e que sim senhor, é interessantíssimo, sem dúvida.
Depois destas duas entradas para o nosso futuro dicionário (quiçá enciclopédia), proponho que comecem a enviar as vossas sugestões, sejam elas palavras, expressões ou situações, para o correio electrónico acima referido. O sucesso aguarda-nos!

Publicado no Açoriano Oriental a 28 Junho 09

26/06/2009

The Dictionary of Bullshit

Acho que este vou comprar; é utilíssimo para além de divertido. E há mais, vejam aqui...


21/06/2009

PSSST!

Vossa eminência chamou?

Chegou ao meu conhecimento, através de uma amável carta, uma sugestão imperdível.

Num jornal televisivo, uma legenda (daquelas irritantezinhas que, qual carreiro de formigas, desfilam por baixo das mãos do jornalista e me fazem sentir que tenho de optar entre ler, ver ou ouvir as notícias) dizia: “está uma reunião eminente para hoje”. Não sei qual seria o tema, mas a reunião devia ser importantíssima. O que até mais me espantou foi saber-se tal coisa de antemão. Ora, se os profissionais do jornalismo conseguem adivinhar isso, porque não nos fazem chegar mais cedinho a chave do Euromilhões, a data exacta do fim da crise ou o próximo valor da inflação? Se calhar é porque não há sondagens para tais futilidades.

Iminente e eminente são adjectivos que muitas vezes se confundem, pela semelhança de grafia. O que está quase a acontecer, o que está próximo, é iminente; aquilo que denota superioridade, excelência, o que é alto, então é eminente.

Se tiver dificuldade em distinguir, lembre-se: se é eminente é porque já está provado sê-lo e não há iminência que se lhe aplique, pois essa fase já passou; se for cardeal ou outro alto dignitário da Igreja, é um “vossa eminência”; e se é iminente, pode ser que venha um dia a ser eminente, só se percebe no fim. Como nos jogos de futebol.

Uma palavra de aviso, porque isto há sempre umas armadilhas pelo caminho: se se tratar de uma eminência parda é porque a eminência está disfarçada e apenas os mais observadores reconhecerão o verdadeiro poder. Esses serão os iluminados, e muito provavelmente iminentemente eminentes.

Publicado no Açoriano Oriental a 21 Junho 09

18/06/2009

Adivinhem lá!


Mandaram-me (não revelo as minhas fontes....) um jogo muito engraçado, uma espécie de adivinha. Só tens de descobrir qual das louras famosas foi fotografada nos Açores. Vê com muita atenção, é algo difícil!

14/06/2009

PSSST!


Você tem uma «Mensagem»?

Por este dias, ando muito influenciada pela «Mensagem». A de Fernando Pessoa, apesar de não desprezar outras mensagens, desde que não sejam do além… ou de telemarketing, a vender um novo e infinitamente melhor produto.

Não sei se por influência do 10 de Junho — a repetição do mesmo modelo de cerimónias há anos sem fim tanto pode ser um conforto (Portugal idem idem) como um desespero (Portugal idem idem), tudo depende do ponto de vista e o de Pessoa também conta: “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, / Define com perfil e ser / Este fulgor baço da terra / Que é Portugal a entristecer”; se pelas tiradas lugar-comum no programa “As 7 Maravilhas de Portugal pelo Mundo” em que, apesar da louvável e apelativa iniciativa, o texto dos apresentadores era tão bafiento! (ainda citando: “Outros haverão de ter / O que houvermos de perder.”); se por causa das Europeias — ainda não me recompus da terrível taxa de abstenção —, que tanta indiferença mereceram dos portugueses (apesar de Pessoa ter dito que “A Europa jaz, posta nos cotovelos / De Oriente a Ocidente jaz, fitando / […] O rosto com que fita é Portugal”); se por via dos humedecidos nevoeiros (“Ó Portugal, hoje és nevoeiro…”) que ensombraram estas ilhas durante uns dias — se prometedores do Encoberto, não sei, mas já me parece um bocadinho tarde para tal; enfim, só sei que a única coisinha que nestes dias me alegrou foi saber que Barack Obama já ouviu falar de Camões, conhece o nome da obra e sabe em que século se situa. Nada mal: muito melhor que os inquéritos de rua aos portugueses.

“Senhor, falta cumprir-se Portugal! / […] É a Hora!”.

Publicado no Açoriano Oriental a 14 Junho 09

11/06/2009

É a hora!

III - Os Tempos

Quinto
Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

Escrito em 1928 por Fernando Pessoa, sendo o poema que fecha a Mensagem. Sinto-o tão actual.

09/06/2009

Teoria da Conspiração Informática


Aderi ao Facebook, por via de tantos convites. E apesar de achar graça, não sei se não será mais uma coisinha para me prender ao computador. Entretanto, fui à "New Yorker" e encontrei este cartoon...

07/06/2009

PSSST!


n(v)ote bem

É notável o modo como conseguimos dar a volta às palavras. Com tanta publicidade, propaganda, marketing e forças de vendas, por força de tanta exposição, tanta manobra e demagogia, a língua portuguesa por vezes é de tal forma esfacelada que… pensando bem… será notável ou notório?

Creio que, nos dias que correm, um conceito já se confunde com o outro. Mas não deveria. Notável é o que, para além de ser digno de atenção, é ilustre, é distinto ou extraordinário. Mais: pode referir-se a algo ou alguém possuidor de características excepcionais. Notório significa que é claro, conhecido de um vasto público, que se evidencia de forma aberta. Talvez por influência da língua inglesa (onde «notorious» é claramente negativo e muito próximo de infame) e pela ténue diferença que existe entre cada uma, tenho tendência a desconfiar dessas palavras. E onde muitas vezes se cataloga de notável, vejo notório. Claramente visto. Notável como o cabelo de fulana, da noite para o dia, cresceu 20 cm e clareou tanto! Notável como a filha de sicrana já está tão crescidinha que pode posar para revistas masculinas! Notável como fulano dominou a entrevista e arrasou com a jornalista (não estou a falar de algum caso concreto, nem por sombras…)! Serão notáveis, sim, chamam a atenção, não pela notabilidade mas pela notoriedade. Serão dignos de nota? Muito provavelmente. Mas nota como em notação. Pontuação. E baixinha.

Será notável que hoje votemos todos. É para isso que serve uma eleição: para escolhermos. Votemos. Para que a abstenção não se torne em mais um episódio notório da nossa democracia.

Publicado no Açoriano Oriental a 7 Junho 09

02/06/2009

PSSST!


Tenham modos!
Há modos e há tempos. Falo de verbos, claro, apesar de que esta frasezinha de início até poderia ser aplicada a muitas circunstâncias de vida.
O modo exprime as diferentes atitudes do falante em relação ao facto enunciado — certeza, incerteza, ordem, hipótese; o tempo indica a altura em que esse facto acontece. Nos modos existem o indicativo, o conjuntivo e o imperativo; nos tempos, essencialmente, o passado, o presente e o futuro.
Esta semana, li, numa notícia, uma tal salgalhada de modos verbais que até tive de colocar os óculos: onde deveria estar o indicativo (usado para relatar acções reais) estava o conjuntivo — modo reservado para dúvidas, eventualidades ou hipóteses. E digo mesmo reservado, no sentido em que deve usar-se com reservas, pois se quiser falar de algo que acontece, tem o hábito de acontecer ou vai acontecer muito proximamente… deve usar o indicativo. Concretizando: «eles entram todos os dias às 10». Indicativo. Habitual e factual. Agora experimente com o conjuntivo: «eles entrem todos os dias às 10». Não. De todo. Mas estaria certo se dissesse: «eles que entrem todos os dias às 10». Conjuntivo. Porque está a conjecturar, não a relatar.
Como fazer a distinção? Analise bem qual a atitude: é uma narração, uma suposição ou uma ordem? Está a contar, a desejar ou a comandar? Quer descrever, duvidar ou… pôr e dispor? Se é uma notícia, calculo que seja uma narração. Portanto, supõe-se menos e indica-se mais.
Termino a autoflagelar-me com a errata da semana passada: era ininteligível e
não “inteligível”. As minhas desculpas. Malvado joelho!

Publicado no Açoriano Oriental a 31 Maio 09