23/12/2010

Aventura de Natal

“Depressa, depressa,

e não é preciso que se meça

a fita de enfeitar

ou o papel de embrulhar!”.

Era a voz do Pai Natal

que, num vermelho quase fatal,

comandava as brigadas

de gnomos, duendes e fadas

que na oficina labutavam

e os presentes embrulhavam,

carregando o seu lindo trenó,

(“cuidado, tens de fazer o nó!”)

que mais parecia um ovo

de tanto brinquedo novo

que lhe enchia as bancadas.

Era tudo às três pancadas!

“Para o ano, prometo,

que noutra assim não me meto:

devia ter começado em Agosto!”.

Mas quem corre por gosto

dizem as vozes que não se cansa

e, na verdade, sempre alcança

o fim a que se propôs.

Ou será que se contrapôs?

E no meio da confusão

ouviu-se a voz de trovão

de um gnomo minúsculo

(era tarde, já crepúsculo...)

que contra a tirania bradou

e no meio da oficina parou

sem mais um só dedo mexer:

“Não quero mais gnomo ser

nem que todos os meninos chorem

ou junto de mim implorem...

tudo o que quero é descansar

e no Natal não mais pensar!”.

De todas as caras de espanto

(todas e outro tanto!)

foi a do Pai Natal que se insuflou

– bem, quase rebentou –

pois tal nunca esperara

de quem tantos séculos trabalhara

correndo de fio a pavio

sem nunca abrir o pio.

Porquê isto agora?

Pois se esta era a pior hora!

Mas ser Pai Natal

é ser alguém muito especial

que a todos compreende

mesmo a quem não se entende

por ser tão pequenino,

quase do tamanho de um ratinho.

“Diz-me, filho, porque estás assim?

Diz-me, aqui, só a mim?”

E o gnomo, capuz à banda,

fez como o Pai Natal manda

e falou de sua justiça:

“Estou farto desta liça!

Todos os anos é trabalho... só...

e tudo o que quero é ir no trenó,

conhecer o mundo inteiro

e ser um aventureiro!”

Quem sempre cala nem sempre consente

pensou o Pai Natal, contente

por esta criatura tão pequena,

quase tão forte como uma rena,

ter sabido assim falar

do que andava a sonhar.

“Oh oh oh, pois será esta a minha prenda

e para que ninguém se arrependa

todos os anos vou levar

no meu trenó de voar

cada um de vocês,

cada um na sua vez!”

E assim ficou declarado

que nas vésperas do feriado

cada gnomo voaria

e muitas casas visitaria

para as prendas entregar

e as crianças fazer sonhar.

E se ninguém leva a mal...

a todos um bom Natal!

Maria das Mercês Pacheco