06/10/2008

PSSST!


Há caracóis!
Eu andava a fugir disto. Até porque é um clássico e já tem um lugarzinho de destaque no panteão. Dos disparates.
O melhor é concretizar. Por exemplo, cruza-se com alguém conhecido na rua e diz: olá, _____ tanto tempo que não te via. Que palavrinha coloca no espaço em branco? Há, à ou ah? Está a dizer que existe, está fazer uma contracção ou está a ter um ataque de espanto?
A coisa ainda se complica mais se nos reportarmos a textos onde, ao invés do “à”, nos deparamos com um “á”. Deixem-me dizer-vos desde já que isto não existe. A não ser em expressões como «á-bê-cê», não senhores, não há. É apenas uma miserável criatura nascida da confusão entre o acento grave e o acento agudo. Que já são, só por si, fonte de grande agitação. Cada um usa a mnemónica que quiser, mas posso dar uma ajudinha: grave inclina-se para a esquerda e agudo inclina-se para a direita. E para distinguir uns de outros: “há” é do verbo haver e significa, neste caso, “existir”, e a sua conjugação é impessoal, não sujeita a género ou número (por isso é que não “hão” caracóis!); “à” é a contracção da preposição A e do artigo definido/pronome demonstrativo A, e que encaixa que nem uma luva em «O António vai à escola» ou em «Dei um livro à Ana»; e “ah” é uma interjeição exclamativa.
Só para rematar, “às” é o plural de “à”, e não a mais valiosa carta de qualquer naipe. Esse (ou essa) será o “ás”. Do volante, da política ou de copas…

Publicado no Açoriano Oriental de 5 Out 08

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