12/04/2010

PSSST!

Isto não é um peixe
Se existem novas formas para comunicarmos — Twitter, Facebook, MySpace, Badoo, Hi5, só para nomear alguns — então também existem novas formas para disparatarmos. Tirando os erros de simpatia, os dedos desastrados ou a digitação supersónica, há aqui um vastíssimo campo para exploração linguística. E humorística.
Uma dessas preciosidades foi a palavra “pelágio”. Que era (imagino que por digitação desajeitada…) para ser ‘plágio’. Mas que acabou por ser um mergulho de chapa. Pois pelágico relaciona-se com o mar, em traços muito largos. É claro que um plágio pode ser algo de tão profundo e vasto (profundamente aviltante? vastamente desrespeitoso?) que acaba por se transformar, metaforicamente, num acto pelágico. ‘Plágio’, que na origem está associado às noções de rapto ou obliquidade, significa copiar ou imitar de forma fraudulenta, sem respeito pelos direitos de autor; um ‘plagiedro’, por exemplo, é um cristal com faces oblíquas; já ‘pelágico’ usa-se para designar o que é oceânico, ou os peixes de profundidade; ‘pelágia’ é uma espécie de alforreca; ‘pelagiano’ tanto pode ser uma variante do adjectivo pelágico como um simpático albatroz; e, só para confundir, ‘plagióstomo’ é uma mistura dos dois — uma ordem de peixes, só que de boca oblíqua (como as raias)! Mais ‘e’, menos ‘e’…
Se confundir era o objectivo então o emprego da palavra “homolgado” em território automobilístico é um sucesso absoluto. É só fazer a ponte: carros = chapa, chapa = amolgado. Ou “homolgado”? Não. ‘Homologado’ era o termo certinho, mas que diacho, mais ‘h’ menos ‘h’, mais ‘a’ menos ‘o’, fica tudo como o peixe. Com a boca de lado.
Publicado no Açoriano Oriental a 11 Abril 2010

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