12/07/2010

PSSST!

Imagens dentro de caixas
Isto das novas tecnologias obriga a uma constante renovação da língua — e ainda bem! Pixel, scanner, bit, só para mencionar algumas mais em voga. Mas há coisas que não são assim tão novas. Como a palavra câmara, que tem uma imensidão de significados: aposento, conjunto de vereadores, assembleia de legisladores, o próprio edifício da dita assembleia, repartição de despachos da realeza, parte de uma arma de fogo, e até, em termos populares, uma cãibra. Ou aquela máquina que serve para registar imagens, paradas ou em movimento.
A sua história, ou o seu conceito, é tão antigo quanto a palavra grega «kamára», que significa ‘abóbada’, tendo passado pelo crivo do latim para se transformar em «camèra». Depois passou para as línguas modernas (não liguem ao salto histórico, não tenho caracteres que cheguem!) e entrou no português de duas maneiras — como ‘câmara’ e como ‘câmera’. O primeiro para designar todos os significados mais acima e o segundo… bem, o segundo é um anglicismo. E é escusado. Apesar de estar dicionarizado, está em demasia e nem sequer dá muito jeito, pois aposto que há-de criar mais confusão do que clareza.
O facto é que a ‘câmara’ levanta celeuma. Mexe com os ânimos. Transforma o invisível em visível, mesmo o que, por vezes, não será muito interessante de ver. Experimentem apontar uma câmara a alguém e reparem no efeito: os olhos abrem-se (não de espanto ou sabedoria…), os lábios mexem-se, o rosto ilumina-se, a cabeça meneia-se. Plim! O milagre da máquina de filmar ou de fotografar acontece. Qual milagre do Divino, qual história. A câmara que mais resultado obtém é a das imagens.
Por falar nisso, não me posso esquecer de levar a minha. Boas férias!
Publicado no Açoriano Oriental a 12 Julho 2010

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