19/10/2008

2

Para além de ser bastante óbvio que estou a (re)reler Os Maias, as comparações entre o fim do séc. XIX e este princípio periclitante do séc. XXI não acabam...

"- Preocupação peninsular, filho - disse Afonso, sentando-se ao pé da mesa, com o seu chapéu desabado na mão. - Desembaraça-te dela. É o que eu dizia noutro dia ao Craft, e ele concordava... O português nunca pode ser um homem de ideias, por causa da paixão da forma. A sua mania é fazer belas frases, ver-lhes o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixá-la incompleta, exagerá-la, para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não hesita... Vá-se pela água abaixo o pensamento, mas salve-se a bela frase."
In Os Maias, Eça de Queirós, Ed. Livros do Brasil, pág. 259

Observação genial. E muitas vezes verdadeira. Aplicável a muita gente, myself included em ocasiões.

Sem comentários: