27/12/2009

PSSST!

Bem visto!

Chegado o fim do ano, toca a contabilizar os azares e as venturas, quais gafes do ano e de quem, as imagens de maior impacto, as desgraças mais avassaladoras, os golos da selecção, casamentos e divórcios… enfim, um sem-número de coisas que tanto podem ser insignificantes como fundamentais; aliás, se houver aí espaço para os melhores eventos culturais do ano já é uma sorte! Portanto, toca cá a fazer contas e saber o que temos a ver e a haver (e a dever).

Parece-lhe demasiado? Embora foneticamente semelhantes, “ter a/que ver” e “ter a haver” são expressões díspares e muitas vezes maltratadas. Se o mundo lhe deve (dinheiro, reconhecimento, gratidão, paciência e por aí fora), então você tem a haver; se tudo o que eu escrevi até agora não lhe interessa coisíssima alguma, então não tem que ver. Consigo. “Ter a haver” equivale a “ter a receber” e é muito popular no território da contabilidade; se acrescentar a proposição “de”, remete logo para o devedor. “Ter a/que ver” (alguns gramáticos consideram o uso da preposição “a” um francesismo) significa, desde logo, envolver o eu ou o outro num assunto, por isso, e nesses casos, precisa de “com”. Nada tenho a ver com o falhanço da cimeira ambiental em Copenhaga — um belo exemplo do uso da tal expressão, mas pouco exemplar no resto. O planeta Terra tem a haver maior consciencialização ambiental — outro belíssimo exemplo de frase. Mais frases poderiam surgir que tivessem que ver com estas expressões. Ver não é só olhar, é também compreender e relacionar; pode ser conhecer, examinar, deduzir, avistar; até pode ser imaginar. Um ano melhor. Tudo tem a ver.

Feliz 2010!

Publicado no Açoriano Oriental a 27 Dezembro, 2009

21/12/2009

PSSST!

Pacote de Natal
Já chegou. Praticamente…
Chega o Natal e, também, a azáfama dos votos, postais (caixa postal electrónica inundada), mensagens de SMS, a ocasional carta ou cartão e, claro, muitos acenos, muitos votos, muitos desejos. Fica a garganta seca e a imaginação esgotada. Nesta época, gemo sob o peso de uma atroz dúvida: devo apenas desejar Feliz Natal, com validade até ao dia 24, e passar novamente pelo mesmo martírio para, até 31, desejar Bom Ano? Devo optar pelo pacote 2 em 1 — Boas Festas — e assim arrumar os votos de uma vez por todas? Ou sucumbo a ambos? Ambos os dois?
Se pensam que me apanharam num erro, estão enganados. Talvez tenha cometido uma impropriedade de estilo, mas a expressão pleonástica “ambos os dois” não está errada, apenas deslocada — se for um discurso cuidado, elegante, não a use; se for um registo informal, não se amofine.
“Ambos” pode receber o artigo desde que a seguir o substantivo esteja declarado, mas também pode guardar o artigo para outra ocasião (empreste ao Português do Brasil, por exemplo); por outro lado, se é “ambos” é porque são dois, daí o bendito pleonasmo.
“Ambos” refere-se a dois, nunca a mais do que isto. Com “ambos”, três é demais. Bem… depende. Se disser «os dois amigos conversaram», a conversa foi entre aqueles dois; mas se for «ambos (os) amigos conversaram» então é porque falaram, os dois, com uma terceira pessoa; se a frase for «ambos não conversaram», reescreva e prefira «nenhum conversou».
Creio que vou economizar nos votos: opto pelo pacotito. Se depois despender mais do que o previsto, olha, logo se vê… peço ajuda ao Pai Natal.
Boas Festas!
Publicado no Açoriano Oriental a 20 Dez. 09

14/12/2009

PSSST!

Espartanamente espartilhada
Esta deve ser, das que já escrevi, a coluna mais adequada à época. Não sei se é da (longuíssima) antecipação do Natal ou da ventilada crise, mas entrei em dieta. Ou em regime. Sinceramente… não sei, pois uma dieta em princípio implica um regime. Mas os princípios já não são o que eram, para parafrasear.
Regime ou regímen (aqui, não esquecer o acentozito!) significa um modo, um regulamento, um procedimento, seja de governar, de comer ou de agir. Gramaticalmente, regime é igual a regência, a relação que as palavras e as orações têm entre si através da sintaxe. Na questão da nutrição, é um conjunto de normas que influencia o comportamento alimentar. Já uma dieta é um regime alimentar “cozinhado” de forma a adequar-se às necessidades particulares de cada um; pode também significar a redução ou privação total/parcial de algum alimento, ou a confecção de pratos pobres em gorduras e calorias. Postas as coisas assim, acho que estou mas é em dieta, principalmente por causa da privação.
O que nos faz resvalar para o início do texto, para aquele apontamento sobre a crise. Uma crise será um regime? Espartano ou espartilhado? Ou será uma dieta? Talvez a última hipótese, até porque uma dieta é capaz (ênfase na incerteza) de durar menos que um regime; e porque a palavra dieta também significa uma assembleia legislativa — isto em certos países e arcaicamente, claro, nada de modernices…
Da próxima vez que alguém me disser que está a crescer em termos pessoais, eu declaro que ainda bem, porque se for para crescer de outra forma e com a minha idade, já fico assustada. Além disso, estou em dieta.
Publicado no Açoriano Oriental a 13 Dezembro 09

07/12/2009

PSSST!

De que 1º
Até que ponto é uma pessoa influenciada pela publicidade? Para passar à fase seguinte, por favor escolha uma resposta: muito, às vezes, nada. Se disse nada, mentiu. Se disse muito, aconselho uma profunda revisão da sua filosofia de vida. Se escolheu às vezes, é uma pessoa perfeitamente normal. O problema é que nem sempre a língua portuguesa fica bem na fotografia…
Num anúncio em voga na televisão, a protagonista pergunta “o que estão a falar?”. Piiiiiiii! Errado. Noutro, ouço qualquer coisa como “50% de desconto nas marcas que mais gosta”. Piiiiiiii! Errado. E porquê, diga-me? Não sente falta de alguma coisa? De quê? De de. Exacto, de uma palavrinha tão pequenina, de uma minúscula e aparentemente insignificante preposição, de…
Há verbos e nomes que precisam da preposição “de” para ficarem completos. Lembrar, esquecer, gostar, avisar são alguns dos verbos em que, na esmagadora maioria das vezes, o singelo “de” é necessário. Faça um teste: se o complemento ao verbo ou ao nome puder ser substituído pelo demonstrativo “isso”, então o “de” é essencial. Você gosta isso ou gosta disso? Lembra-se isso ou lembra-se disso? E quando entra a meio de uma conversa, pergunta o que falam ou do que falam? Falam de, sem dúvida, de algo ou de alguém, conforme o grau de coscuvilhice. O fenómeno da queda do “de” junto do “que” é tão comum que até já foi baptizado: queísmo.
No entanto, o assunto não se resolve de forma assim tão linear, pois casos há em que o “de” é opcional e outros em que o parzinho “de que” está em demasia. Lembrem-me de que isso fica para uma próxima…

Publicado no Açoriano Oriental a 6 Dez. 09

01/12/2009

PSSST!

Aguardem-me!

Ontem, por acaso, ouvi (foi mais bisbilhotado do que ouvido…) uma frase que me fez arrebitar as orelhas e, talvez, eriçar o pêlo. Era uma pergunta inocente mas que alegremente punha o dedo numa feridita muito comum da língua portuguesa: a colocação de um “a” logo no início de algumas palavras. E se em alguns casos pouco muda, noutros a diferença é essencial.

Um dos que mais gosto é “alembrar”. Bem alembrado, sim senhores! Alembrar é a versão popular de lembrar, sem perda de significado e com brinde — a prótese do “a”, que é como a gramática rotula este fenómeno fonético. Assoprar e soprar, alevantar e levantar, arrecuar e recuar, assentar e sentar, são casos semelhantes, brinde incluído e tudo. No caso do verbo assentar, há uma certa exclusividade de significados: em “assentar a cabeça” ou “assentar arraiais”, não me parece que o singelo “sentar” consiga substituir o colega. E depois há o par aguardar/guardar; apesar de muitas vezes usados como sinónimos, o fosso semântico que os separa é mais que fosso, é abismo. Mas a tendência de colocação do “a” é mais forte e a confusão gera-se. Quem espera nem sempre guarda… paciência.

Deixo um último desafio. E aboiar? Aquele nosso aboiar que é como quem diz atirar com muita força: aboio-te pela janela abaixo? É = a+boiar? Segundo o dicionário, aboiar tanto pode ser boiar, falar com os bois (para que se esforcem no trabalho), prender um barco a uma bóia ou marcar um lugar com uma bóia. Por seu lado, boiar tanto pode ser flutuar, como falar com os bois ou chamar com voz muito alta. Do atirar (que não faz par com tirar), nada. Acho que vou mas é aboiar com o dicionário!

Publicado no Açoriano Oriental a 29 Nov 09

23/11/2009

PSSST!

Desata-línguas
Lembra-se do seu linguajar de criança? Sem falar nos anos (ui!) que distam entre o presente e a infância de cada um, todos nós criámos palavras que, seguindo uma lógica de imitação fonética, representavam o mundo. Uma das de melhor memória era «deslarga-me». Havia logo correcção, pois deslargar não era reconhecida como uma palavra propriamente dita, daquelas com chancela do dicionário e da professora primária. Deixei de dizer «deslarga-me», pelo menos em público!
Mas não deveria. Porque o prefixo DES- não só significa separação ou acção contrária, mas também intensidade. E está na moda. Quantas vezes já lobrigou “desmultiplicar”? Desmultiplicam-se recursos, orçamentos, eventos e pessoas. Sem recorrer a qualquer efeito de clonagem, você pode desmultiplicar-se as vezes que aguentar. Quer dizer que se dispersa por várias actividades em simultâneo.
E o deslargar? Apesar de não unanimemente reconhecido pelos dicionários, é uma forma popular de intensificar a ideia de largar. Se é mesmo para largar, sem dúvidas, verdadeiramente, pode gritar o tal «deslarga-me». Não será para se proferir em reuniões de administração ou jantares de cerimónia, mas diga-a, sem pejo, no meio da rua, entre amigos, na galhofa. Tal como pode dizer destrocar (desfazer uma troca, algo complicado mas possível; ou, se for militar e estiver a comandar a parada, para destroçar) ou destorcer. Esta última é até bastante útil, pois significa endireitar o que está torcido; ou torcer para o outro lado; também serve para disfarçar. E apesar de não ser sinónima de distorcer, não anda muito longe. Destorce o que puderes para distorceres o que quiseres, já dizia o velho ditado!
Publicado no Açoriano Oriental a 22 Nov 09

16/11/2009

PSSST!

De olho bem aberto!
Se éramos mais felizes na rude Idade da Pedra ou se o somos agora na virtualíssima Era da Ciber-tecno-comunicação, não faço ideia. Aliás, nem caio na armadilha de navegar por esses meandros antropo-socio-históricos (não se apoquentem com os hífenes, são pura divagação minha). Tanta conversa por causa de um sintoma da «evolução» das sociedades: a vigilância. Videovigilância. Audiovigilância. Olfactovigilância, num futuro possível… Se em qualquer das fases evolutivas sempre nos vigiámos mutua e cuidadosamente, será que hoje se descambou para o exagero? Se vigiar é dar atenção extremosa e cuidar, não será também espreitar para além do necessário? Estar vigilante e ser voyeurista serão conceitos próximos?
De acordo com o dicionário, a diferença entre vigilar e vigiar não existe, pois são sinónimos (já o-tão-na-voga escutar e ouvir não o são, mas isso fica para outra vez). Somos vigilados nos bancos, lojas, bares, edifícios públicos. Somos esquadrinhados por satélite. Por outro lado, vigiamos a nossa saúde: examinar o coração, verificar o peso, fiscalizar o colesterol são hoje gestos comuns. E não nos devemos ficar por aqui, pelo que percebi de um recente artigo de jornal. Há muito mais corpo a vigiar/vigilar. Ainda bem. “Vigilância genital” era a expressão escarrapachada naquela primeira página; e apesar de ter entendido perfeitamente o jargão médico, não pude deixar de elaborar. Soar bem, não soa. Ser universalmente compreendido, não é. Evitar imagens voyeuristas, não evita. Não questiono o jargão ou o conceito, que é fundamental. Questiono a finura. Ou fineza…

Publicado no Açoriano Oriental a 15 de Nov 09

08/11/2009

PSSST!

Absurdos cumprimentos

Há dias, uma amiga fez uma observação pertinente: o contra-senso (ou contrassenso, no futuro, o que me parece menos sensato e mais sinuoso!) que é enviar, no fecho de uma missiva, a frase “com os meus melhores cumprimentos”. A questão que ela me levantou foi a da utilização do comparativo “melhores”. Melhores do que o quê? Realmente, dá que pensar. O nosso dia-a-dia está recheado de frases feitas sobre as quais pouco reflectimos.

Para começar, se for uma carta escrita em nome pessoal, assinatura inclusive, os cumprimentos só podem ser de quem subscreve na primeira pessoa — “meus”, portanto; muito estranho seria que fossem de outra pessoa que não a que assina a mensagem, mesmo que acrescente cumprimentos de outrem; se for uma instituição, como o banco que nos guarda o capital, os cumprimentos são “nossos”, claro, embora este “nossos” seja uma coisa algo difusa, tanto quanto o local exacto onde os meus dinheiritos estão guardados.

E se há melhores, será que existem “piores cumprimentos”? Cumprimentos assim-assim? Azedíssimos cumprimentos (para os mais criativos, mas com disposição biliosa)? Cumprimentos enfastiados? Será que é uma questão de concorrência: os cumprimentos do banco X são melhores do que os do banco Z? Se o saldo for negativo, até é uma insinceridade. Ou melhores do que os da companhia de seguros? Dos das Finanças?

No meu fraco entender, os cumprimentos não devem ser nem melhores nem piores; podem, sim, ser sinceros, calorosos, atenciosos… até resplandecentes, conforme o dia e humor. Ou apenas cumprimentos e ponto final.

Diga-me, leitor, que tipo de cumprimentos habitualmente manda?

Errata da semana passada: antepenúltima, ao invés de penúltima.

Publicado no Açoriano Oriental de 8 Nov 09

03/11/2009

ó pra mim a fazer um cartoon!


A revista New Yorker lançou um divertido concurso: faça o seu próprio cartoon! A partir de um cenário fixo e de uns quantos elementos móveis, qualquer pessoa (inscrição obrigatória) pode criar um cartoon. E há prémios!

Este é o meu cartoon!

01/11/2009

PSSST!

Penso, logo digo.

Nem sequer sou fã de futebol (…e… abundante chuva de pedras). Mas a notícia da criação de um logótipo para a candidatura conjunta Portugal-Espanha ao Mundial de Futebol de 2018 fez-me vasculhar os dicionários, reais e virtuais, que encontrei pelo caminho. É que o jornalista em questão disse “logotipo”. LÓ-GÓ-TÍÍÍÍÍ-PO. Só a última sílaba é que não era acentuada e a penúltima arrostava com o peso todo da palavra. É que eu julgava que era logótipo. GÓ. E julgava bem, mas aparentemente a outra versão também já é aceite. Corruptela? Muito provavelmente. Culpem os gregos, se quiserem, mas logótipo é uma palavra esdrúxula, logo acentuada na penúltima sílaba — como linótipo ou tipógrafo que, para além de serem esdrúxulos, até pertencem à mesma esfera de ideias.

Ora de corruptelas e quejandos está o mundo cheio, mas que o corrompido já esteja institucionalmente publicado já é outra história. Ou não. Pensando bem, até é bastante comum. Sem querer entrar em qualquer logomaquia, ou até para contrariar alguma tendência logógrafa minha, e não é porque sofra de logofobia (já estão de dicionário em riste?), soa-me melhor dizer e ouvir logótipo. É mais… como dizer… mais… logótipo! Visualizo melhor o significado e valorizo mais a finalidade. Sem chegar a um qualquer extremo logogrífico (e eu que pensava que nunca arranjaria palavras que rimassem com frigorífico!), não seria melhor darmos preferência às peças de origem e ignorar certas imitações? Não tenho a resposta. Não sei onde estará. Duvido que possa ser encontrada, a não ser por meio da logotecnia. Ou do debate público, que tambémbém estátá na modada. Ai, desculpem, foi um ataque — não de soluços mas de logoclonia!

Publicado no Açoriano Oriental a 1 Nov 09

29/10/2009

mais arte


Hanoch Piven, caricaturista sui generis

Este artista israelita há 14 anos que tem marcado publicações dos dois lados do Atlântico, como a Newsweek ou o London Times (a minha escolha do género dos artigos é absolutamente instintiva e ad hoc).

Mais sobre Piven a partir deste link.

26/10/2009

PSSST!

Coisas peludas
Embora seja ainda muito cedo para o Ano Novo (e quase igualmente muito cedo para o Natal, apesar de um passeio pelas ruas da cidade dizer o contrário!), já estou a pensar no acordo ortográfico. E estou aterrorizada. Suores frios. Nem sei se continuarei a escrever esta coluna, pois é certo e quase sabido que farei imensos erros.
Para começar, vou mentalizar-me de que terei de saltar os “c” antes dos “ç”; poderá o meu dedo rumar para o lado esquerdo do teclado, mas terei de o desviar rapidamente para o direito. Um sacrifício a vários níveis. Depois, será a queda dos “p” (nada que se compare à do império romano, mas mesmo assim inquietante) que marcará algumas palavritas, como óptimo; desconfio que o adjectivo perderá algo da sua excelência, apesar da habitual mudez do desgraçado “p”. Uma queda sentida, ali e em excepto, concepção ou Egipto, por exemplo. Se vou ficar susceptível ou suscetível, não sei, mas que vai ter efeitos, vai! Por fim vêm os acentos. Que vão deixar de ter assento em palavras como… pelo. E que pelo é este? Pós acordo, será qualquer um: o pélo do verbo pelar; o pêlo de pilosidade; e o pelo resultante de contracção de preposição com artigo. Ficam todos iguais, apesar de se aceitarem grafias duplas nos casos de variação de pronúncia. O que pode, por sua vez, originar graves discórdias: se palavras como acordos e acordes, cuja grafia claramente diferencia a leitura, já causam dissensões, imaginem agora sem acento!
Diálogo muito possível: — Pelo que acho… — Desculpe, mas está a referir-se à minha pilosidade? — Por quem sois, de modo nenhum, era a contracção. — Ah…!
Eu sou mais pela diferenciação.
Publicado no Açoriano Oriental a 25 Out 09, após interregno iniciado em Julho

08/10/2009

Saudade, que não se traduz....


Por alta recomendação (!!!), deparei-me com este artigo num site chamado The Morning News. O autor, Philip Graham, viveu um ano em Lisboa e aprendeu muito, inclusive a sentir saudade... recomendo a leitura aqui, aguçando-vos o apetite com um pequeno excerto.

"Why aren’t you listening to Portuguese music? The Portuguese are certainly listening to us. When I lived in Lisbon a couple of years ago, I visited apartments lined with shelves of American rock, folk, blues, and jazz CDs. One of the city’s main newspapers, Diário de Notícias, paid homage to the careers of American and British rock stars on their birthdays—David Bowie and Tom Waits, among others—with multi-paged inserts that included thumbnail photos of even the most obscure albums, accompanied by mini-reviews."

06/10/2009

o que leio 4


Fui mais atraída pelo nome do autor que outra coisa, mas a experiência é muito interessante: 31 Songs, de Nick Hornby. É uma colectânea de 2002, em que o autor partilha não só a escolha musical como também os sentimentos e pensamentos que cada uma dessas opções apresenta. Nick Hornby é o autor de High Fidelity e About a Boy e um dos mais respeitados criadores britânicos de hoje, defensor de causas justas. Para ler e ouvir...

29/09/2009

Receita do Jamie Oliver


Aubergine Parmigiana

main courses serves 6

This classic northern Italian recipe is a great way to serve aubergines. By layering them with Parmesan and tomatoes and then baking them you get an absolutely moreish, scrumptious vegetable dish. Great served with all sorts of roasted meats and with roasted fish as well.First things first: remove the stalks from the aubergines, slice them up into 1cm thick slices, and put to one side. Whether you’re using a griddle pan or a barbecue, get it really hot. Meanwhile, put 2 or 3 glugs of olive oil into a large pan on a medium heat. Add the onion, garlic and dried oregano and cook for 10 minutes, until the onion is soft and the garlic has a tiny bit of colour. If you’re using tinned tomatoes, break them up, and if you’re using fresh tomatoes (which will obviously taste sweeter and more delicious, if they’re in season), very quickly prick each one and put them into a big pan of boiling water for 40 seconds. Remove from the pan with a slotted spoon and put them into a bowl of cold water for 30 seconds, then remove the skins, carefully squeeze out the pips and cut up the flesh. Add the tomato flesh or tinned tomatoes to the onion, garlic and oregano. Give the mixture a good stir, then put a lid on the pan and simmer slowly for 15 minutes. Meanwhile, grill the aubergines on both sides until lightly charred – you may have to do them in batches, as they probably won’t all fit into your griddle pan in one go. As each batch is finished, remove them to a tray and carry on grilling the rest until they’re all nicely done. When the tomato sauce is reduced and sweet, season it carefully with salt, pepper and a tiny swig of wine vinegar, and add the basil. You can leave the sauce chunky or you can purée it.Get yourself an earthenware type dish (25 x 12–15cm). Put in a small layer of tomato sauce, then a thin scattering of Parmesan, followed by a single layer of aubergines. Repeat these layers until you’ve used all the ingredients up, finishing with a little sauce and another good sprinkling of Parmesan. I like to toss the breadcrumbs in olive oil with a little freshly chopped oregano and sprinkle them on top of the Parmesan. Sometimes the dish is served with torn-up mozzarella on top, which is nice too.Place the dish in the oven and bake at 190°C/375°F/gas 5 for half an hour until golden, crisp and bubbly. It’s best eaten straight away, but it can also be served cold. You can use the same method substituting courgettes or fennel for the aubergines – both are delicious. But do try making it with aubergines – you’ll love it!
Mais receitas no site do Jamie Oliver

28/09/2009

o que leio 3


Apesar de já existirem há muitos anos, só agora descobri os livros de Yukio Mishima. Estou a ler The Sailor Who Fell from Grace with the Sea e sinto um turbilhão de emoções - pelas imagens fortíssimas que a escrita dele cria, pelas intrigantes personagens e, claro, pela diferença cultural. Fascinante!

22/09/2009

Equinócio de Outono


É nestas alturas que me apetecia viver no tempo dos druidas e assistir aos verdadeiros rituais pagãos de celebração da vida e da Natureza (blame it on Christianity...). À falta de druidas, pedregulhos seculares e a certeza de como tudo se processou, fica o registo do equinócio de Outono. Ide aqui ver mais informação...

15/09/2009

... e apetece-me emigrar!

Omega Centauri
NASA's Hubble Space Telescope snapped this panoramic view of a colorful assortment of 100,000 stars residing in the crowded core of a giant star cluster. This is one of the first images taken by the new Wide Field Camera 3 that was installed aboard Hubble in May 2009 during Servicing Mission 4, which can snap sharp images over a broad range of wavelengths.

Image Credit: NASA

14/09/2009

PSSST! (semi-retrospectiva)

Iné-dita
Tenho uma pergunta a fazer: alguém conhece uma tradição inédita? Tenho andado à procura e não está fácil… Sei que foi avistada uma lá para os lados do grupo central, pelo menos foi esse o relato feito por um(a) profissional da comunicação social. Mas eu não vi. Tenho tanta pena!
Como não tem sido possível encontrar este espécime tão raro, pergunto-me se não terá sido mais um daqueles casos de avistamento ilusório ou identificação errónea. Será que era uma tradição endémica? Talvez uma tradição herética? Esperem… sim… uma tradição anódina. Ah, já sei, uma tradição idálica (perdoem-me, não resisti!). Foi desta, não acham?
A sério. O adjectivo inédito significa “algo nunca visto”; ou “um texto nunca publicado”; portanto, será algo “original”. A expressão tradição inédita esconde um contra-senso, pois para ser tradição precisa de algumas décadas — isto na versão «fast food» — para se afirmar; e se for inédita, nunca foi vista.
Então porque não dizer de imediato que era uma tradição original? Até mesmo insólita, se se quiser fazer um juízo de valor. Fazer notícias não é fazer literatura. A clareza do que se comunica, quando se comunica para as massas (não, não são as italianas), é importante na medida em que a mensagem será mais facilmente apreendida. E, depois, bem… é que a tradição já não é o que era!
Publicado no Açoriano Oriental em 2008

08/09/2009

one of my favourites...


Este é um dos meus "rapazes" preferidos. Lembram-se dele em Black Adder, com Rowan Atkinson e Hugh Laurie? Stephen Fry tem um longo currículo como comediante, actor, criativo, dramaturgo, etc. Deixo aqui a página dele, se quiserem acompanhar.

03/09/2009

o que leio 2


Estou mesmo a terminar (com imensa pena!) o The Book of Other People, uma colectânea de contos por escritores de língua inglesa - uns jovens e menos conhecidos, outros mais experientes - e editado por Zadie Smith. A única obrigação? Que cada conto crie uma personagem... e há, muitas e maravilhosas, desde um monstro pré-histórico até Perkus Tooth, passando pelos gigantes adormecidos. Um delicioso exercício de ficção e que recomendo!

01/09/2009

One Million Giraffes


Dois amigos fizeram uma aposta de que um deles não conseguiria juntar 1 milhão de girafas até 2011. A aposta resultou num site para onde se podem mandar imagens de girafas, desde que não sejam objectos comprados numa loja ou desenhos de computador. Para ver o site aqui.

O Rui Pedro Almeida alinhou na brincadeira e enviou um desenho.

Obrigada à Sara Nóia pela link.

25/08/2009

"Shouts & Murmurs", directamente da New Yorker

O site da revista New Yorker coloca mais uma pérola à disposição dos leitores: um hilariante texto de Paul Simms sobre Alex Kerner, CEO e presidente vitalício da empresa imaginária Alex Kerner's Personal Life, Inc.
Transcrevo um pouco, mas aconselho vivamente a leitura integral: "Alex Kerner (C.E.O., C.O.O., chairman, and president of Alex Kerner’s Personal Life, Inc.) announced today a wide-ranging restructuring of his imaginary company’s upper management.
Tim Williams, a member of the company in varying capacities for five years, has been promoted to Best Friend, and he will report directly to Kerner in all friendship-related matters.
“Tim has proved himself to be a solid guy who’s always up for whatever,” Kerner says. “During the past five years, I’ve watched him excel in every position he’s occupied. From Mere Acquaintance to Periodic Dinner Companion (In Groups of Four or More People) to Frequent Midweek Business-Lunch Cohort, Tim has consistently shown himself to be just the kind of person we’re looking for in a Best Friend."

A ideia é engenhosa: gerir a nossa vida pessoal como se fosse uma empresa!
O restante aqui. Ilustração de Barry Blitt.

24/08/2009

"Pub"




Depois de um espectacular fim-de-semana em Santa Maria, a banhos na Maia, só precisava agora de uma massagem para ficar 100%! Se estivesse em Lisboa, ia ao Costas d'Anjo...

17/08/2009

Design, objectos de...


Nada como um designer para pensar em soluções. Sempre achei que todos os suportes, caixinhas, pratinhos e afins para colocar o sabonete eram uma grande porcaria pois, ao fim de algum tempo, o dito sabonete acabava melado e sujo. Vejam esta sugestão de Eva Solo. Quem quer abrir uma lojinha destes produtos comigo?

14/08/2009

PSSST! (semi-retrospectiva)

Boing!
Já decidi o que vou fazer para o resto da minha vida: ser traumatologista. Com tantas pessoas a dar encontrões, compensa largamente!
Já fiz uma prospecção e a lista é infindável: alguns jornalistas, um ou dois escritores no topo da tabela de vendas, alguns comentadores/colunistas, população em geral.
Na verdade, nem tenho de me preocupar muito com o início do negócio: nada de grandes campanhas de marketing, clínicas ultra modernas ou recepcionistas vestidas de látex. Basta ficar à espera que alguém diga as palavras certas — bem, na verdade… erradas!
Porque todas as vezes que alguém usar a expressão “IR DE ENCONTRO A” quando quiser dizer que há concordância, que há encontro de ideias, que há união de conceitos, está na verdade a dar um grande encontrão. Um trambolhão linguístico. Uma contusão verbal. Um traumatismo (i)letrado.
O que realmente querem dizer é que estão a “IR AO ENCONTRO DE”. Uma questão de preposições, não é? Coisa mínima…
Ir ao encontro de um amigo. Ir ao encontro de novas tendências. Ir ao encontro de uma proposta.
Ir de encontro ao poste de luz. Ir de encontro ao separador da auto-estrada. Até se pode ir de encontro à decisão do ministro Z (se for o próprio, esta nem é difícil e não envolve pronto-socorro). Não se deve é ir ao encontro de indo de encontro a. Boing!
Publicado no Açoriano Oriental em Janeiro 08

10/08/2009

Anthony De Sa


"MOVING FROM THE PORTUGUESE VILLAGE OF LOMBA DA MAIA, WHERE TIME STANDS STILL, TO THE DARK ALLEYS OF A SLEEPY, BACKWATER TORONTO IN THE 1970s, BARNACLE LOVE OFFERS A REMARKABLE COMING-OF-AGE STORY"

Anthony De Sa é mais um interessantíssimo exemplo de um filho de imigrantes que não só ultrapassou qualquer limitação que a sua ascendência lhe pudesse causar (família originária da Lomba da Maia, São Miguel), como soube transformar esse valioso legado num testemunho universal. O meu irmão acompanhou uma das prelecções - uma visita guiada por De Sa aos locais mencionados no livro e, no fundo, à infância e herança do autor - cuja audiência de cerca de 200 pessoas (para surpresa do autor!) era maioritariamente canadiana sem ascendência lusa.

Mais sobre Anthony de Sa e Barnacle Love aqui.

05/08/2009

PSSST! (semi-retrospectiva)

Parece que o meu post de ontem ficou algo "negro". Não era a intenção nem tem sido este o meu espírito. Entretanto, senti saudades de escrever aquelas cronicazitas do AO, mas estou de férias. Ponto. Para mitigar as ditas e porque já não me lembro bem da primeira fase, vou publicando, com a regularidade que me apetecer (eheheh), as que nunca foram aqui publicadas pela simples razão de que este blogue nem era nascido. Aqui vai a primeira, com desenho do Rui Pedro Almeida.


ADE—quê?
Estava eu num delicioso momento de «zapping» quando a notícia de um evento me prendeu o dedo no botão: uma ilustre senhora, perorando em nome de uma ilustre organização, disse que o dito evento estava a ser um sucesso e que estava a ter (citando) “imensa aderência”.
Plof! Quais melgas gigantescas em dia de calor pegajoso, centenas de pessoas ficaram imediatamente espalmadas contra a parede. E para ter a certeza de que não havia falta de adesão à aderência, ainda lhes acrescentei umas tiras de fita-cola. Zás!
Este é o efeito da palavra aderência quando empregue em vez de adesão. A confusão (apesar de serem diferentes desde os tempos do latim: adhaerentia e adhaesione) é perfeitamente normal se considerarmos que não é fácil debitar um texto minimamente coerente e interessante sob o olho implacável da câmara. Até os profissionais se enganam. E a verdade é que, desde que Andy Warhol cunhou o conceito “15 minutos de fama”, nunca mais houve um momento de sossego. O meu conselho aos entrevistados? Adiram às palavras monossilábicas. Sem grunhir, claro. Pronto, duas sílabas e já podem dizer imensas coisas, como «gostei» ou «q’ horror». Assim evitam os problemas de aderência (ficarem com a língua literalmente colada ao palato) e podem experimentar uma imensa e grata adesão. Da nossa parte.
Publicado no Açoriano Oriental em Janeiro de 2008

04/08/2009

a marcha inexorável do tempo


... e pronto, já entrámos em agosto, a partir daqui é sempre para baixo! contagem decrescente, damos por nós e estamos no natal, depois vem 2010, já passou a primeira década, eu cada vez mais perto dos 50. é o tempo que não pára, não pára, mais pareço o coelho da alice (estou inquieta que o filme estreie por cá, novamente a querer que o tempo passe) mas para quê? para ir para onde? para despachar o quê? para chegar ao quê? juro que não estou com um ataque agudo de existencialismo, apenas - e atónita pela sua marcha - vejo o tempo que passa, inexorável, um batalhão de segundos que marcha, marcha, surdo aos impropérios dos humanos, cego às teorias da física... e mudo, tão mudo, nada nos diz! de que fala o tempo, desregulado entre ser tempo de relógio e tempo meteorológico (os ingleses é que têm razão, uma palavra diferente para cada um), bipolar, esquizofrénico, time killer, de que a história nunca se repete? é mentira, nós é que nunca aprendemos. basta! vou lá fora ver o tempo que o tempo faz e sepultar o meu relógio debaixo de uma pedra...

PS - depois deste desabafo, acho que vou colocar o blogue em férias... ninguém me liga... chuif! Alguém que alimente os peixes, por favor. MM has left the building!

31/07/2009

Delicioso!

Delicioso cartoon.... novamente do site da "New Yorker"!

27/07/2009

o que leio


Comecei a ler Liver, de Will Self. Perturbador, no mínimo. Já tinha lido (da colecção comemorativa dos 70 anos da Penguin) o conto Design Faults in the Volvo 760 Turbo e tinha ficado com as orelhas arrebitadas. Agora consegui este Liver, um conjunto de 4 histórias, essencialmente sobre a decadência humana, os vícios, os podres... e com reviravoltas absolutamente espantosas. Emoções fortes!

25/07/2009

Beam me up, Scotty!


Nunca mais inventam o teletransporte, aquele que poderia evitar horas e horas de espera nos aeroportos, atrasos inexplicáveis dos aviões, bagagem perdida, bilhetes transviados, etc. Se calhar evitaríamos ouvir coisas como "Bem-vindos à ilha de Ponta Delgada" ou "Acabámos de aterrar na cidade de São Miguel" ou ainda que "Este voo destina-se à ilha dos Açores". Bem, e daí, se calhar não...

22/07/2009

No Alentejo 3


Começo por dizer que este post é um embuste, pois já estou em São Miguel. Mas não queria deixar de partilhar estas imagens: porta de entrada na zona histórica de Avis; uma das 4 torres da vila (só duas se mantêm de pé e em estado precário, mesmo assim); 3 ninhos de cegonhas construídos em torre de alta tensão, no Ribatejo, mesmo junto dos arrozais.

15/07/2009

No Alentejo 2 e meio



Aqui vão as fotos que ficaram esquecidas ontem: Alentejo verde e pleno de vinhas, visto de Évoramonte; Alentejo com nuvens, mesmo no Alcórrego; muralhas de Évoramonte; sala principal do castelo de Évoramonte; famoso templo de Diana, em Évora; túmulo na rua de Évora, junto ao museu; estátua de Cargaleiro, também nas ruas de Évora.

14/07/2009

No Alentejo 2

Este Alentejo (alto e interior) também é verde, tem nuvens cinzentas e dias que mais parecem açorianos... Os dias têm acordado frescos, ventosos, de humor instável.
Fomos passear por Évoramonte e Évora, uma cidade que conseguiria convencer-me a viver nela, se tal fosse o caso.
Quanto mais descemos para sul, maior é a ausência de verde. Vista do alto do Google Earth, esta parte do país está realmente invadida pelo deserto.

11/07/2009

No Alentejo 1




Era intenção da dona deste blogue – em férias no Alentejo alto e interior (a dona, não o blogue) – publicar croniquetas dia sim, dia não. Mas o centro de Avis e caminho certo para o posto de Internet está em obras, recebemos visitas e eu estou toda mordidinha por um bicho qualquer que se deliciou com a minha pele clara e o meu sangue fresco (e que presumo seja também doce e azul).
Uma das coisas que noto mal chego aqui a este Alentejo é o tamanho do céu. Grande, de olhos arregalados, como se se espantasse todas as vezes que um avião lhe risca a face; e são tantos os aviões que por aqui passam...

05/07/2009

PSSST!


Que nome têm as suas férias?

Férias! Férias! Férias! Vai começar a «silly season» (ou até já começou, a avaliar pelos ares que sopram de vários quadrantes do continente) e lá vamos de férias!

É engraçado que a palavra féria tanto pode significar um dia de semana — e neste caso tem a mesma raiz de «–feira», elemento que compõe os nomes dos dias úteis da semana — como o salário semanal (ou o rol destes salários). Aliás, feira vem do latim «feria» e significa dia de festa, sendo o dia em que ninguém, principalmente os escravos, tinha de trabalhar. E nós, escravos do mundo moderno, vamos fingir que não nos importamos por não sentirem a nossa falta no local de trabalho, para o qual voltaremos voluntariamente após três ou quatro semanas.

Lembro-me bem de ouvir, em criança, o uso da palavra féria para significar ordenado, mas numa variante muito micaelense: era a “féra”! Imagino que, como eu, deve ter havido muita criança a tentar perceber o que poderia um bicho selvagem ter em comum com o dinheiro. Imprevisibilidade?

No plural, férias são aquilo que mais queremos, descanso, ócio, nada fazer, nem a ponta de um… “ups”… gesto ministerial.

Mas não se pense que a palavra férias é assim tão insonsa. Pode acrescentar uns pozinhos de outras ideias: férias-prémio, férias-relâmpago, mini-férias (nem sei se este último deve levar hífen, confesso!). Proponho, como exercício mental para o Verão, que criemos nomes para outros modelos de férias e os partilhemos numa próxima oportunidade. Tipo férias-de-bruma, férias-falidas, férias-de-notícias-sobre-o-ronaldo… Ou férias-estou-tão-cansada-que-já-perdi-a-inspiração!

Publicado no Açoriano Oriental a 5 Julho 09

29/06/2009

PSSST!


Absurdo número um
Navegando pela Internet, descobri um útil livro, em forma de dicionário, que expunha as tretas (tradução comedida da palavra original!) mais comuns com que os falantes da língua inglesa se podem deparar e como delas se defender. Depois descobri que havia mais livros do tipo. Essencialmente, todos eles expõem os eufemismos, as expressões falaciosas, os absurdos, etc. Como não sei o estado do mercado livreiro português nesse campo, proponho que comecemos já aqui a nossa própria lista de absurdo/tretas (numa palavra, coisas-que-não-conseguimos-compreender-por-mais–que-nos-esforcemos), por ordem de inspiração e não alfabética.
Quem começa? Eu? De acordo. Apesar de que me dava jeito alguém com experiência política aqui ao lado…
Colaborador — mas desde quando é que um empregado, ou seja, alguém cuja vida profissional é feita a trabalhar a tempo inteiro para outrem em troca de remuneração, é um colaborador? É um empregado, é um funcionário, tenha o cargo que tiver. E então uma pessoa desempregada? É um «descolaborador»? Fica a pergunta.
Desafio — quando empregue para significar uma «quase-impossibilidade», é um eufemismo. É claro que algo difícil de atingir pode ser desafiante, mas a ligação não é nem imediata, nem universal. O que geralmente fazemos quando somos confrontados com certos desafios? Um sorriso civilizadíssimo, e que sim senhor, é interessantíssimo, sem dúvida.
Depois destas duas entradas para o nosso futuro dicionário (quiçá enciclopédia), proponho que comecem a enviar as vossas sugestões, sejam elas palavras, expressões ou situações, para o correio electrónico acima referido. O sucesso aguarda-nos!

Publicado no Açoriano Oriental a 28 Junho 09

26/06/2009

The Dictionary of Bullshit

Acho que este vou comprar; é utilíssimo para além de divertido. E há mais, vejam aqui...


21/06/2009

PSSST!

Vossa eminência chamou?

Chegou ao meu conhecimento, através de uma amável carta, uma sugestão imperdível.

Num jornal televisivo, uma legenda (daquelas irritantezinhas que, qual carreiro de formigas, desfilam por baixo das mãos do jornalista e me fazem sentir que tenho de optar entre ler, ver ou ouvir as notícias) dizia: “está uma reunião eminente para hoje”. Não sei qual seria o tema, mas a reunião devia ser importantíssima. O que até mais me espantou foi saber-se tal coisa de antemão. Ora, se os profissionais do jornalismo conseguem adivinhar isso, porque não nos fazem chegar mais cedinho a chave do Euromilhões, a data exacta do fim da crise ou o próximo valor da inflação? Se calhar é porque não há sondagens para tais futilidades.

Iminente e eminente são adjectivos que muitas vezes se confundem, pela semelhança de grafia. O que está quase a acontecer, o que está próximo, é iminente; aquilo que denota superioridade, excelência, o que é alto, então é eminente.

Se tiver dificuldade em distinguir, lembre-se: se é eminente é porque já está provado sê-lo e não há iminência que se lhe aplique, pois essa fase já passou; se for cardeal ou outro alto dignitário da Igreja, é um “vossa eminência”; e se é iminente, pode ser que venha um dia a ser eminente, só se percebe no fim. Como nos jogos de futebol.

Uma palavra de aviso, porque isto há sempre umas armadilhas pelo caminho: se se tratar de uma eminência parda é porque a eminência está disfarçada e apenas os mais observadores reconhecerão o verdadeiro poder. Esses serão os iluminados, e muito provavelmente iminentemente eminentes.

Publicado no Açoriano Oriental a 21 Junho 09

18/06/2009

Adivinhem lá!


Mandaram-me (não revelo as minhas fontes....) um jogo muito engraçado, uma espécie de adivinha. Só tens de descobrir qual das louras famosas foi fotografada nos Açores. Vê com muita atenção, é algo difícil!

14/06/2009

PSSST!


Você tem uma «Mensagem»?

Por este dias, ando muito influenciada pela «Mensagem». A de Fernando Pessoa, apesar de não desprezar outras mensagens, desde que não sejam do além… ou de telemarketing, a vender um novo e infinitamente melhor produto.

Não sei se por influência do 10 de Junho — a repetição do mesmo modelo de cerimónias há anos sem fim tanto pode ser um conforto (Portugal idem idem) como um desespero (Portugal idem idem), tudo depende do ponto de vista e o de Pessoa também conta: “Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, / Define com perfil e ser / Este fulgor baço da terra / Que é Portugal a entristecer”; se pelas tiradas lugar-comum no programa “As 7 Maravilhas de Portugal pelo Mundo” em que, apesar da louvável e apelativa iniciativa, o texto dos apresentadores era tão bafiento! (ainda citando: “Outros haverão de ter / O que houvermos de perder.”); se por causa das Europeias — ainda não me recompus da terrível taxa de abstenção —, que tanta indiferença mereceram dos portugueses (apesar de Pessoa ter dito que “A Europa jaz, posta nos cotovelos / De Oriente a Ocidente jaz, fitando / […] O rosto com que fita é Portugal”); se por via dos humedecidos nevoeiros (“Ó Portugal, hoje és nevoeiro…”) que ensombraram estas ilhas durante uns dias — se prometedores do Encoberto, não sei, mas já me parece um bocadinho tarde para tal; enfim, só sei que a única coisinha que nestes dias me alegrou foi saber que Barack Obama já ouviu falar de Camões, conhece o nome da obra e sabe em que século se situa. Nada mal: muito melhor que os inquéritos de rua aos portugueses.

“Senhor, falta cumprir-se Portugal! / […] É a Hora!”.

Publicado no Açoriano Oriental a 14 Junho 09

11/06/2009

É a hora!

III - Os Tempos

Quinto
Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a hora!

Escrito em 1928 por Fernando Pessoa, sendo o poema que fecha a Mensagem. Sinto-o tão actual.