19/04/2009

PSSST!


Isso nem parece seu!
Eu sei que vivemos numa sociedade consumista. Crise ou não crise, adquirimos bens e usamos serviços. Mas, que diacho, não ponham na minha posse coisas que não me pertencem. Olhem lá o sigilo bancário… ou a falta dele. A propósito, como li num blogue esta semana, quem vai controlar o assunto? E, pergunto eu, quem vai controlar quem controla?
Voltando à posse. A culpa é da supremacia do «seu». Ouço e leio por todo o lado que isto é seu, aqueloutra é sua; nunca é dele ou dela, é sempre seu. Ora bem, se sou eu o destinatário da mensagem, presumo que é meu. Não é. O meu, declaro no IRS. Por exemplo, uma loja ou um restaurante anunciam — dirigindo-se a nós directamente — que “os seus preços” são isto ou aquilo. Não são os meus preços, de certeza absoluta. São os preços deles; se fossem os meus seriam bem diferentes!
O uso do pronome possessivo «seu» para referir o que é possuído por terceira pessoa está correcto. Mas também pode servir para referir o que é de segunda pessoa (em presença e se tratada com cerimónia). Portanto, o erro está no abuso. Assim, para diferenciar, nesses casos deve preferir-se o pronome «dele» e devidas flexões. Se eu estiver a falar com alguém a quem trato por «você» e se surgir outro referente na conversa, o uso de «seu» pode criar confusão: vai ficar sempre a dúvida de quem possui o quê. E, se calhar, quando e onde! Livra!
Diálogo tirado à pressa do chapéu:
— Olá, como está? Liguei ontem para a sua filha, mas o seu telemóvel estava desligado.
— O meu telemóvel?
— Não, o da sua filha…
O ideal teria sido «o telemóvel dela». Por isso, parem de colocar em meu nome o que é de outrem. Posso nem querer…


Publicado no Açoriano Oriental a 19 Abril 09

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