02/06/2009

PSSST!


Tenham modos!
Há modos e há tempos. Falo de verbos, claro, apesar de que esta frasezinha de início até poderia ser aplicada a muitas circunstâncias de vida.
O modo exprime as diferentes atitudes do falante em relação ao facto enunciado — certeza, incerteza, ordem, hipótese; o tempo indica a altura em que esse facto acontece. Nos modos existem o indicativo, o conjuntivo e o imperativo; nos tempos, essencialmente, o passado, o presente e o futuro.
Esta semana, li, numa notícia, uma tal salgalhada de modos verbais que até tive de colocar os óculos: onde deveria estar o indicativo (usado para relatar acções reais) estava o conjuntivo — modo reservado para dúvidas, eventualidades ou hipóteses. E digo mesmo reservado, no sentido em que deve usar-se com reservas, pois se quiser falar de algo que acontece, tem o hábito de acontecer ou vai acontecer muito proximamente… deve usar o indicativo. Concretizando: «eles entram todos os dias às 10». Indicativo. Habitual e factual. Agora experimente com o conjuntivo: «eles entrem todos os dias às 10». Não. De todo. Mas estaria certo se dissesse: «eles que entrem todos os dias às 10». Conjuntivo. Porque está a conjecturar, não a relatar.
Como fazer a distinção? Analise bem qual a atitude: é uma narração, uma suposição ou uma ordem? Está a contar, a desejar ou a comandar? Quer descrever, duvidar ou… pôr e dispor? Se é uma notícia, calculo que seja uma narração. Portanto, supõe-se menos e indica-se mais.
Termino a autoflagelar-me com a errata da semana passada: era ininteligível e
não “inteligível”. As minhas desculpas. Malvado joelho!

Publicado no Açoriano Oriental a 31 Maio 09

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