26/10/2009

PSSST!

Coisas peludas
Embora seja ainda muito cedo para o Ano Novo (e quase igualmente muito cedo para o Natal, apesar de um passeio pelas ruas da cidade dizer o contrário!), já estou a pensar no acordo ortográfico. E estou aterrorizada. Suores frios. Nem sei se continuarei a escrever esta coluna, pois é certo e quase sabido que farei imensos erros.
Para começar, vou mentalizar-me de que terei de saltar os “c” antes dos “ç”; poderá o meu dedo rumar para o lado esquerdo do teclado, mas terei de o desviar rapidamente para o direito. Um sacrifício a vários níveis. Depois, será a queda dos “p” (nada que se compare à do império romano, mas mesmo assim inquietante) que marcará algumas palavritas, como óptimo; desconfio que o adjectivo perderá algo da sua excelência, apesar da habitual mudez do desgraçado “p”. Uma queda sentida, ali e em excepto, concepção ou Egipto, por exemplo. Se vou ficar susceptível ou suscetível, não sei, mas que vai ter efeitos, vai! Por fim vêm os acentos. Que vão deixar de ter assento em palavras como… pelo. E que pelo é este? Pós acordo, será qualquer um: o pélo do verbo pelar; o pêlo de pilosidade; e o pelo resultante de contracção de preposição com artigo. Ficam todos iguais, apesar de se aceitarem grafias duplas nos casos de variação de pronúncia. O que pode, por sua vez, originar graves discórdias: se palavras como acordos e acordes, cuja grafia claramente diferencia a leitura, já causam dissensões, imaginem agora sem acento!
Diálogo muito possível: — Pelo que acho… — Desculpe, mas está a referir-se à minha pilosidade? — Por quem sois, de modo nenhum, era a contracção. — Ah…!
Eu sou mais pela diferenciação.
Publicado no Açoriano Oriental a 25 Out 09, após interregno iniciado em Julho

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