18/04/2010

PSSST!

As palavras (mal)ditas

Nem sei se já falei deste assunto; às tantas, já me repito. Mas, ao fim de dois anos, creio que não preciso de me desculpar perante vós, caros leitores, se acontecer repetir-me.

A questão é a da oralidade versus a escrita. Por favor leia as seguintes palavras com a velocidade normal do registo informal: privilégio — diferente — definitivo. O que é que lhe saiu? Qualquer coisa como «previlégio» — «deferente» — «defenitivo»? Não se martirize, é perfeitamente natural. Tão natural quanto, por cá, se ouvir mesmo «previlége» ou «defenitive». Apesar de erradas, as verbalizações ainda escapam; o que não escapa é ter-se este tipo de incorrecção escarrapachada em folhetos publicitários ou cartazes gigantescos. Porque o pessoal começa a pensar que até está certo (e se aqueles senhores puseram aquilo por escrito na publicidade é porque está certo, não é?) e adere logo.

E se tiver de distinguir (olhem, mais um: «destinguir») entre diferir e deferir? Ditos depressa soam ao mesmo. Mas não são. Diferir é adiar ou discordar; deferir é conceder, outorgar. Difiro, portanto, que se confundam.

Tal como podem confundir-se o diferente com o deferente. O primeiro, dito depressa, soa ao segundo, sem qualquer deferência para a diferença que os separa. É deferente quem é atencioso, condescendente; diferente é aquilo que não é igual, que é distinto e diverso. Cá por mim podemos ser todos um pouco mais deferentes e diferentes, desde que não discriminemos quem o não é.

E é com a devida deferência que deixo aqui a minha vénia aos 175 (vá, todos em coro a recitar o ordinal: centésimo septuagésimo quinto!) anos do Açoriano Oriental!

Publicado no Açoriano Oriental a 18 Abril 2010

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