05/07/2010

PSSST!

Mais vale uma boa separação…
Não é perseguição; nem sequer mania! Mas retorno à questão do ‘a’ que teima em engalfinhar-se, em alturas impróprias, nas palavras que o subseguem. Teima… ou teimam por ele!
Se isto fosse um debate, de que lado se colocaria? ‘Aparte’ ou ‘à parte’? Para começar, lêem-se da mesma maneira, com o primeiro ‘a’ aberto; escrevem-se de forma ligeiramente diferente; não são a mesma coisa; e não tem de tomar partidos, pois ambos estão correctos. ‘Aparte’, como substantivo, significa um comentário, um esclarecimento, uma interrupção, uma confidência (em teatro, é uma fala de um actor em que este, envolvendo o público, finge estar a falar consigo próprio); ‘à parte’ é uma locução adverbial equivalente a ‘em separado’, ‘em particular’ ou ‘excepto’. “Àparte” não existe, por mais que alguns bem-intencionados poupadores de espaços entre palavras insistam…
À parte toda esta confusão, acrescentemos ‘afim’ e ‘a fim’ à lista dos ‘a’ teimosos. Vê alguma diferença? Tal como no caso anterior, têm leitura igual, grafia semelhante mas não são, nem nunca foram, a mesma coisa. ‘Afim’ é um substantivo e um adjectivo, e designa que se tem afinidade ou parentesco, que se é próximo ou semelhante; ‘a fim’, que nas suas versões correctas e completas deve ser ‘a fim de’ ou ‘a fim de que’, é, novamente, uma locução e revela intenção, propósito, como em ‘para que’, ‘com o fim de’. No Brasil, estar ‘a fim de’ é demonstração de interesse por alguma coisa ou alguém (do que se depreende das novelas, grandes «educadoras» do povo, será mais por alguém do que por alguma coisa), isto num registo informal tropical e acalorado, claro.
Publicado no Açoriano Oriental a 4 Julho 2010

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