06/04/2009

PSSST!


Do tempo da Maria Cachucha!
Muito se aprende no supermercado! Não só encontramos o melhor iogurte para o trânsito intestinal (informação já gentilmente cedida pela TV à hora das refeições, o que faz todo o sentido mas mesmo assim impressiona!) ou o melhor aloé para a roupa (receio que, qualquer dia, a minha roupa fale comigo e me diga, cara a cara, o que pensa de tanto detergente…), como também podemos escutar perguntas perfeitamente deliciosas. Outro dia, em grande aflição, uma senhora perguntava se vendiam aloquetes. Placidamente, a menina do caixa respondeu que não. Ainda mais placidamente, perguntei se sabia o que eram; e sabia. Não é fácil encontrar gente nova que saiba o que é um aloquete. Aliás, eu nem tinha a certeza de como se escrevia, pela distância que vai desde a última vez que vi essa palavra, tanto em papel, como no meu «scroll» mental (uma funcionalidade extremamente útil). Para mim, as palavras — para além do corpo das suas letras — possuem uma espécie de ficheiro biográfico que lhes confere personalidade.
E, dessa lembrança quase apagada, surgiram outras, algumas por sugestão de uma leitora (obrigada, Fátima). Aloquete, ou loquete, mais comum no Norte do país, significa fecho móvel, cadeado ou ferrolho, outra antiguidade. E coxim? O raro coxim? No dicionário, é uma espécie de sofá sem costas; cá, é almofada de sentar e não de deitar a cabeça. E a cruzeta, onde sempre pendurámos os casacos? A camionete… O ser-se chocalheiro… Sumir alguma coisa… Mas um dos meus preferidos é o uso de DISCRETO como sinónimo de esperto. É o suficiente para confundir qualquer um! Ou não… A verdade é que uma pessoa discreta (reservada) pouco revela, raramente correndo o risco de dizer o que não deve. Coisa rara, mais rara do que um coxim, hoje em dia!


Publicado no Açoriano Oriental a 5 Abril 09

6 comentários:

Raquel Roque disse...

Se fosse a empregada desse supermercado não sabia responder, desconhecia completamente a palavra aloquete.
Bjs

Maria das Mercês disse...

Pois percebo, nem te consigo dizer de onde a conheço... Talvez dos anos que vivi em Lisboa. Ou de cá?

Filipe Machado disse...

Por acaso é das palavras que mais utilizo no dia a dia ;) "favor coloquem um aloquete na boca!". Bjs!

Maria das Mercês disse...

Tu és um homem do norte, Filipe!

Maria dos Açores® disse...

Aloquetes e picheleiros, acho piada a estas palavras. Como ao coxim e pechinché (penso que se escreve assim)!! Beijocas fofas

Maria das Mercês disse...

Bem-vinda, Maria dos Açores (não sei se a conheço?!?). A palavra correcta é"psiché", mas nós temos tendência a colocar mais um som de vogal no meio do P e do SI. Dizem os puristas da língua que se deve dizer "toucador". Adoro qualquer uma delas!