02/04/2009

Dia Mundial do Livro Infantil

Já que hoje é o tal dia e como não há maneira de (anyone?) publicar o meu livro de contos a rimar, aqui fica mais um. Infelizmente, não há desenhos do Barradas para acompanhar!

A Cidade dos Cogumelos

Chovia, chovia, chovia, chovia...
e há já três meses que não se via
uma nesga de sol no céu;
só, na paisagem, um chapéu
de nuvens de cenho fechado
e o próximo verão ameaçado
de nunca mais o vir a ser.
Realmente, até custa a crer!
Suspiravam as pessoas,
que mais pareciam canoas
à deriva, sem amarração,
e uma neblina no coração.
É, pois, neste amargo cenário,
que vamos encontrar um canário
de fofa plumagem amarela
que, por detrás de uma janela,
vê, distante, o mundo passar.
E a chuva, sem nunca parar!
Certo dia, como os outros, tal e qual,
repara em algo pouco normal:
vai um homem a saltitar,
uma senhora quase a adornar,
um menino, a pé coxinho,
e mais além um velhinho...
“Vai o mundo a coxear!”,
pensa o bicho, sem disfarçar
o espanto por tal caso.
E então, no chão raso,
sentam-se todos, mesmo molhados,
e dos pés tiram os sapatos
para revelarem “Que horror!”,
um visão de tremendo pavor:
é que de tanta humidade
(tanta, que afogava a cidade!)
tinha nascido, meio a medo,
um cogumelo entre cada dedo!
Um fungo, redondo e pardo,
entre os dedos bem plantado,
com uma facécia de espantar
que nem se podia acreditar!
Tudo isto o canário observou
do poleiro em que ficou,
com os olhos esbugalhados,
na casa de vidros molhados.
Devagar, muito a custo,
— pois não queria tal susto! —
as suas patas remirou
e nada de anormal achou:
“Nem sombras de cogumelos!
Os meus pés continuam belos.”
(Na verdade, seriam patinhas,
tão recurvas como gavinhas).
“Ah, ah, talvez seja uma condição
de quem não é bicho de estimação!”
O canário assim pensava
enquanto, contente, saltitava
no seu poleiro metalizado
na casa de rosto molhado...
sem perceber que a Natureza
em toda a sua cruel beleza,
se estava encarregando
de nas suas patas ir plantando
uns quantos lustrosos fungos,
como os outros, tão redondos.
Por isso, antes de falares
e dos outros mal pensares,
pode a má sorte em ti reparar
e nos teus pés também plantar
qualquer acrescento hediondo –
nos pés... ou não importa onde
pois o que aos outros se deseja
pode cair-nos em cheio na cabeça!

Maria das Mercês Pacheco

3 comentários:

Filipe Machado disse...

Participa na sondagem "Melhor James Bond com Pierce Brosnan” até ao dia 20 de Abril 2009, em http://additionalcamera.blogspot.com. Só faltam 16 dias!!

Helena disse...

Maria um dia ainda vais publicar o teu livro, tenho a certeza, só que para a edição(pelo menos a local) a coisa está preta.

Maria das Mercês disse...

Pois é verdade, Helena, está complicado. Há-de chegar o dia! Se eu fosse modelo, mulher de futebolista ou cabeça oca já teria publicado. Bjz