03/05/2009

PSSST!


Sai um particípio bem passado!
O que é que você sabe sobre particípios passados? Que tem a dizer sobre o uso dos mesmos? Vamos ver cada palavra: «particípio» é porque participa em alguma coisa; «passado» porque já foi, já acabou e encontra-se… morto, matado, morrido e enterrado.
Na verdade, o particípio passado é uma forma nominal que participa da natureza do verbo, funciona como um adjectivo (diz da condição de…) e se conjuga com um verbo auxiliar.
E aí é que está o busílis. É que, dependendo do auxiliar, pode haver diferentes particípios. São os duplos — não os do cinema, hercúleos sósias do herói da fita; não aquelas criaturas que sofrem de camaleonismo social e político; nem sequer falo de algo que seja duas vezes maior…
Regra geral (e, como sempre, há excepções), o particípio regular (a forma mais longa) conjuga-se com os verbos ter/haver e o irregular (o modelo compacto) com ser/estar. Por isso se podem usar os vocábulos morto, matado e morrido — mas veja lá como! Alguém pode estar morto, mas ter matado ou morrido. Fulano de tal foi pago para calar o bico, mas alguém tinha pagado para tal. O facto de se ter salvado a reputação de sicrano não significa que esteja realmente salvo. Enfim, não faltam exemplos. Gosto especialmente quando o particípio passado irregular, o da versão “fast-food”, se confunde com um adjectivo: é o caso de dissoluto. Como é irregular, alinha-se com ser/estar: a assembleia foi dissoluta; mas, por causa das confusões, deve fazer-se a tal excepção e preferir… dissolvida; assim poupa o dissoluto para casos em que a dissolução seja de carácter. Deixe estar que não faltam oportunidades!


Publicado no Açoriano Oriental a 3 Maio 09

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