05/08/2009

PSSST! (semi-retrospectiva)

Parece que o meu post de ontem ficou algo "negro". Não era a intenção nem tem sido este o meu espírito. Entretanto, senti saudades de escrever aquelas cronicazitas do AO, mas estou de férias. Ponto. Para mitigar as ditas e porque já não me lembro bem da primeira fase, vou publicando, com a regularidade que me apetecer (eheheh), as que nunca foram aqui publicadas pela simples razão de que este blogue nem era nascido. Aqui vai a primeira, com desenho do Rui Pedro Almeida.


ADE—quê?
Estava eu num delicioso momento de «zapping» quando a notícia de um evento me prendeu o dedo no botão: uma ilustre senhora, perorando em nome de uma ilustre organização, disse que o dito evento estava a ser um sucesso e que estava a ter (citando) “imensa aderência”.
Plof! Quais melgas gigantescas em dia de calor pegajoso, centenas de pessoas ficaram imediatamente espalmadas contra a parede. E para ter a certeza de que não havia falta de adesão à aderência, ainda lhes acrescentei umas tiras de fita-cola. Zás!
Este é o efeito da palavra aderência quando empregue em vez de adesão. A confusão (apesar de serem diferentes desde os tempos do latim: adhaerentia e adhaesione) é perfeitamente normal se considerarmos que não é fácil debitar um texto minimamente coerente e interessante sob o olho implacável da câmara. Até os profissionais se enganam. E a verdade é que, desde que Andy Warhol cunhou o conceito “15 minutos de fama”, nunca mais houve um momento de sossego. O meu conselho aos entrevistados? Adiram às palavras monossilábicas. Sem grunhir, claro. Pronto, duas sílabas e já podem dizer imensas coisas, como «gostei» ou «q’ horror». Assim evitam os problemas de aderência (ficarem com a língua literalmente colada ao palato) e podem experimentar uma imensa e grata adesão. Da nossa parte.
Publicado no Açoriano Oriental em Janeiro de 2008

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