22/03/2010

PSSST!

Verde, código, verde
Vinda de uma ida ao mercado, pus-me a pensar no quanto a nossa vida «comercial» mudou. Quando digo nossa refiro-me claramente à vida das pessoas que têm acesso a mais do que um modo de compras. E é aí que reside o busílis: ter acesso a mais que um modo de consumo é igual a mais qualidade de vida? Ou apenas a mais quantidade? Não sei se por alargarmos o leque de consumo estamos, na verdade, a prolongar, a acrescentar ou simplesmente a acumular…
Considerações filosóficas (das baratuchas, daquelas com cupões, promoções e descontos, apesar de não devolvermos o seu dinheiro se não ficar satisfeito com esta crónica!) à parte, já nos habituámos de tal forma aos prefixos ‘super’, ‘hiper’ e ‘mega’ que se não tivermos essa referência se calhar não reconheceremos o valor da coisa. O facto é que continuamos a mercanciar, mas fazemo-lo de forma sofisticada: não regateamos, sujeitamo-nos ao preço marcado; não trocamos bens, trocamos cartões e papelinhos; não escolhemos 5 cenouras suculentas, carregamos um saco de quilo; não compramos apenas o necessário, levamos também o acessório.
Obviamente que tudo isso tem vantagens, longe de mim negá-las ou sequer excluí-las, mas se na escala crescente de prefixos já galgámos até ao ‘mega’, tendo usufruído do ‘super’ e ‘hiper’ pelo caminho, que degrau vamos subir a seguir? Segundo a actual lógica de capacidade de armazenamento, será o ‘giga’. Depois disso virão o ‘tera’ e o ‘peta’, mas creio que nessa altura já haverá outros prefixos tão ou mais multiplicativos que o melhor é meter-me a caminho das compras antes que o meu ‘verde, código, verde’ expluda. Ou encolha…

Publicado no Açoriano Oriental a 21 Março 2010

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