07/03/2010

PSSST!

Potenciais desvirtudes

Há (há porque existem!) dias que ando a pensar na minha vida virtual. Apesar de — com enorme pena minha — não possuir um avatar que valha uns milhõezitos, a minha existência virtual acumula-se, desdobra-se e cruza-se com outras existências, igualmente virtuais, todos os dias. Não que ache que a minha existência virtual anda por aí a portar-se mal nas minhas costas (reais), nada disso, mas que demonstra uma espécie de emancipação púbere, lá isso demonstra.

A pergunta impõe-se: se virtual é antónimo de real, será que virtual é sinónimo de virtuoso?

Na verdade, não. Tanto na origem como no significado, virtual e virtuoso — e todos os vocábulos relacionados — não são nem sinónimos nem semelhantes. Virtual é o que existe em potencial, o que é possível; virtual é o que é analógico; hoje em dia, cada vez mais, virtual é o que se vive na Internet. Virtuoso é aquele ou aquela que, pelas virtudes que possui, é uma pessoa casta, honesta caritativa; se for um remédio virtuoso, é porque é eficaz; e no campo da música, um virtuoso é um músico de grande talento.

Então, porquê a pergunta? Com a proliferação das redes sociais, que virtudes têm os contactos humanos estabelecidos e desenvolvidos no plano virtual versus o cara-a-cara? Porque no virtual não temos defeitos? Somos o que queremos ser, filtramos as nossas palavras (fora os erros, claro, que esses abundam na comunicação virtual) e comunicamos apenas o que temos de melhor e mais interessante? Somos virtualmente (igual a potencialmente) virtuosos ou virtuosos no virtual? Não sei. São virtuosidades que não domino.

Publicado no Açoriano Oriental a 7 Março 2010

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