16/05/2010

PSSST!

Claustrofobia linguística

Se acha que realmente há falta de espaço na vida moderna, é capaz de ter toda a razão. A causa? Principalmente, por falta de discernimento. E de dedo. O primeiro para usar o segundo. Descodificando: espaço é o que faz falta entre algumas palavras e discernimento é o que é preciso para utilizar o dedo que deve pressionar a barra de espaço do teclado do computador (ou da máquina de escrever, aceitam-se métodos mais antiquados…).

A partir deste momento é que a coisa começa a interessar. Ou a partir desta linha, tanto faz. Pois ‘a partir de’ é uma locução prepositiva que significa ‘a principiar em’, podendo o ‘em’ ser um tempo ou um local: a partir da primeira fila de cadeiras ou a partir do dia 20. Aespaçopartirespaçode. Uma preposição de cada lado. E não “apartir” de, como tanta vez se vê. Conheço ‘apartar’, ‘apartamento’, ‘apartheid’ e ‘apartidário’; quanto ao último, pelo menos sei que existe no dicionário, mas não faço ideia se resta algum exemplar vivo. Ah, e ‘a partir de’ já inclui o ponto de partida.

A falta de espaço é igualmente notória em exemplos como “porcausa”, “derrepente”, “benvindo” e outros que consigam encontrar… sem esquecer as questões do ‘a fim’ vs ‘afim’ e do ‘à parte’ vs ‘aparte’, mas estes ficarão para uma próxima vez.

E se não tiver o ‘de’ depois do ‘a partir’, então o assunto é outro. ‘Estou a partir pedra’ ou ‘estou a partir o pão às fatias’ em nada se relacionam com a tal locução prepositiva, são apenas o verbo partir em conjugação perifrástica do infinito que, por cá, é caso raro e revezado pelo gerúndio: está chovendo!

A partir de agora o melhor é andar com uma barra de espaços na carteira…

Publicado no Açoriano Oriental a 16 Maio 2010

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