16/11/2009

PSSST!

De olho bem aberto!
Se éramos mais felizes na rude Idade da Pedra ou se o somos agora na virtualíssima Era da Ciber-tecno-comunicação, não faço ideia. Aliás, nem caio na armadilha de navegar por esses meandros antropo-socio-históricos (não se apoquentem com os hífenes, são pura divagação minha). Tanta conversa por causa de um sintoma da «evolução» das sociedades: a vigilância. Videovigilância. Audiovigilância. Olfactovigilância, num futuro possível… Se em qualquer das fases evolutivas sempre nos vigiámos mutua e cuidadosamente, será que hoje se descambou para o exagero? Se vigiar é dar atenção extremosa e cuidar, não será também espreitar para além do necessário? Estar vigilante e ser voyeurista serão conceitos próximos?
De acordo com o dicionário, a diferença entre vigilar e vigiar não existe, pois são sinónimos (já o-tão-na-voga escutar e ouvir não o são, mas isso fica para outra vez). Somos vigilados nos bancos, lojas, bares, edifícios públicos. Somos esquadrinhados por satélite. Por outro lado, vigiamos a nossa saúde: examinar o coração, verificar o peso, fiscalizar o colesterol são hoje gestos comuns. E não nos devemos ficar por aqui, pelo que percebi de um recente artigo de jornal. Há muito mais corpo a vigiar/vigilar. Ainda bem. “Vigilância genital” era a expressão escarrapachada naquela primeira página; e apesar de ter entendido perfeitamente o jargão médico, não pude deixar de elaborar. Soar bem, não soa. Ser universalmente compreendido, não é. Evitar imagens voyeuristas, não evita. Não questiono o jargão ou o conceito, que é fundamental. Questiono a finura. Ou fineza…

Publicado no Açoriano Oriental a 15 de Nov 09

Sem comentários: