08/02/2010

PSSST!

Uma caixa com coisas lá dentro
Tudo isto por causa do mar.
Passo a explicar: ao rever uns textos, fiquei na dúvida se a palavra em causa levava hífen ou não… isto sem falar na dúvida se levaria o tal hífen na versão pré- ou pós-acordo ortográfico, apenas na primeira, se nunca levou de todo, ou se esta confusão já seria sintoma — tão usual quanto espirros no Inverno — do novo despotismo linguístico. Sem mais devaneios: fui parar aos substantivos (ou nomes, como sói agora dizer-se) colectivos; ou seja, é como uma só caixa onde posso arrumar muitas coisas da mesma espécie. Independentemente do tamanho, claro. Bem, acho que vou ter de rever esta última frase, pois se o tamanho e a quantidade não contam no caso dos nomes colectivos, então como posso escolher a caixa de que vou precisar? Por exemplo (e isto é mesmo um exemplo «ad hoc», completamente espontâneo), um arquipélago: se for um arquipélago de 9 ilhas (pura coincidência) será que é mais arquipélago do que um arquipélago de 2 ilhas apenas? Devo acrescentar que os livros não ajudam: dizem apenas que um arquipélago é um grupo de ilhas vizinhas umas das outras. Grande achega! Não há quórum aqui, mínimos de participação? Cá para mim, acho que será mais arquipélago por ter tantas ilhas; parece-me mais verídico, soa melhor, tem mais ilhas… portanto, acho que merece mais o prefixo arqui- (que indica superioridade, preeminência). Mas não deixa de ser um arquipélago, claro, como todos os outros. Uma caixa com coisas da mesma espécie lá dentro. Só que maior. E com mais coisas. E mais espaço à volta. Mas porque é que me lembrei disto? Ah, já sei, foi por causa do mar. É que pélago vem do grego e significa mar alto. E também abismo, profundidade, imensidade.

Publicado no Açoriano Oriental a 7 Fev. 10

Sem comentários: