22/02/2010

PSSST!

(contra)diz-se…
Estaremos a viver uma nova era da nossa civilização? Os acordos (os do ‘ô’ fechado…) são cada vez mais difíceis, as opiniões mais contrárias e as notícias mais contraditórias. Será esta a verdadeira era do ‘contra’? E ser-se do contra, será ser-se a favor de quê?
Na legenda de uma notícia, na televisão, surgia há tempos a palavra ‘contrafeito’, do verbo contrafazer. Lembrei-me logo do outro ‘contrafeito’, o de contrariado. Será que um contagiou o outro? Se contrafeito significa falsificado, mas também constrangido ou forçado, quer dizer que uma coisa falsificada é falsificada a contragosto? Que quem pratica a contrafacção, fá-lo contrafeito, mas mesmo assim fá-lo porque a vida está difícil e há que pagar contas? Não imagino que seja o consumidor que, contrafeito, compra um artigo de contrafacção, pois se tivesse de pagar o original não compraria. Bem, se calhar o maior contra é não haver orçamento para comprar o apenas-feito. Contra-senso.
Seguindo o labirinto da polissemia, descobri que ‘contrafeito’ também pode ser um substantivo ali da área da construção civil (uma viga que suaviza um telhado inclinado, basicamente), trabalhos que ignoro pois todos os meus castelos são de nuvens; ‘contrafazer’ não se limita a ‘imitar’ ou ‘falsificar’, sobe de tom e quase grita quando atinge o ‘reprimir-se’ ou ‘violentar-se’; e que ‘contras’ há muitos e muito curiosos!
O facto é que isto de ser-se do contra pode levar a várias interrogações. Por exemplo: se as opiniões forem todas contrárias umas às outras, anular-se-ão? Provavelmente, por mais contranitência que haja.

Publicado no Açoriano Oriental a 21 Fev. 10

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