08/12/2008

PSSST!


Assado, frito e cozido…
E eu que pensava que, com o tempo, haveria de passar! Mas nem pensar, a moda pegou forte. Há bengalas que duram mais que outras — bengalas linguísticas, pois pelas que ajudam a caminhar tenho eu grande respeito. E não há quem se livre!
Já repararam como as conversas, ultimamente, começam quase sempre da mesma forma? Principalmente se a intervenção for fruto de uma pergunta. Seguem-se alguns exemplos, perfeitamente plausíveis:
— Quando saímos desta crise? — pergunta o jornalista ao ministro das finanças. Diz o ministro, com ar sabedor — É assim…
— Professor, porque é que se pensa que o trabalho de Magritte evidencia um estilo mais representativo do surrealismo? — pergunta o aluno (pronto, é um aluno culto, também há). Responde o professor — É assim…
— Foi falta, foi falta! — vocifera o treinador da equipa. Resposta do árbitro — É assim… (provavelmente acompanhada por gestos, para ficar mais expressiva).
Aos mais modestos basta um despretensioso “é assim”; os mais criativos podem sempre optar por inúmeras combinações: isto é assim; pois é assim; olhem, é assim; então é assim; porque é assim; ah, é assim; claro, é assim; ó meu caro amigo, é assim…
A necessidade de recorrer a bengalas linguísticas é inevitável e universal, desde o clássico “portanto” até ao simples “pois”. No presente caso, sinto que a bengalita condena o discurso, no mínimo, a um tom expositivo; na pior das hipóteses, a um tom imperativo. Ora, discursos condenatórios já temos de sobra, discursos absurdos provavelmente ainda mais. Precisamos é de discurso livre. É assim ou não?
Publicado no Açoriano Oriental a 7 Dez. 08

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