22/12/2008

PSSST!


Língua de vaca
Não sei se já viram uma recente publicidade televisiva que parte do seguinte pressuposto: “se as nossas [deles] vacas falassem…”
Segundo o anúncio, diriam maravilhas sobre o leite que produzem — logicamente! Segundo a sabedoria de um certo adolescente de 16 anos, elas diriam o quê? Para nos calarmos.
Incorrendo no risco de igualmente me mandarem calar, acho que faz muito mais sentido. A comunicação, hoje em dia, está cada vez mais pejada de ruído. Sejam novos conceitos ou apenas a ânsia de vender, comunicar é cada vez mais um caminho minado para, às vezes, o nada. E se esse nada não se transformar num saldo negativo, já pode considerar-se uma pessoa cheia de sorte.
Um dos novos conceitos, muito em voga, mas que creio mal apreendido, é o “politicamente correcto”. Mas sabem o que quer dizer? Hein? A expressão não serve para amortecer choques ou embelezar discursos retrógrados. O seu objectivo é neutralizar, em termos de linguagem (por isso o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem passou a ser o dos Direitos Humanos…), a discriminação racial ou sexual. Imagino que a religiosa também. Mas abusar do politicamente correcto pode levar ao campo oposto: é tão, tão, tão politicamente correcto que acaba por cair, novamente, na discriminação. Por excesso de zelo. Por isso, as crenças de cada um são as crenças de cada um.
Sendo assim, volto às vacas. As nossas. Não sei o que nos diriam se ganhassem o dom da fala, mas imagino que seria algo muito sensato. E divertido. Realmente, faz falta sorrir mais…

P.S. — aceitam-se sugestões, críticas e ideias; basta enviá-las para o endereço electrónico pssstcronica@gmail.com. Boas Festas!

Publicado no Açoriano Oriental a 21 Dez 08

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