13/03/2009

Contos a Rimar I


Os Espinhos da Vida

Se nascera no lado errado
tal não era pecado,
mas uma grande complicação
que lhe exigia muita atenção
e um pouco de experiência.
Pois não há alguma ciência
para se ser um bicho espinhudo
de focinho bem barbudo
e perninhas tão lentas?
Para quem passa nos noventas
não há ouriço-cacheiro
que resista ao nevoeiro
ou ao asfalto molhado:
– “Só quero ir para o outro lado!
Porque se aí a comida
é mais apetecida,
só tenho de atravessar
e as pernas acelerar
como se fosse um torpedo.
E não há que ter medo!”.
Lá vai, valente e verdadeiro,
o nosso ouriço-cacheiro
ao outro lado colher
as bagas para comer.
Até que um dia... espanto,
conhece um ser de encanto
e por o seu amor se derrete,
toda a sua paixão promete
sem do outro lado se lembrar.
Para quê lá voltar?
Assim viveram felizes,
tiveram muitos petizes,
os anos-cacheiros passaram
e os filhotes bem medraram.
Mas a curiosidade feminina
é coisa que desatina
pois se neste lado se permanece
do outro nada se conhece...
E não há força como a de uma mulher
(aqui, não metam a colher!)
para o mundo de pernas ao ar virar
e a rotina assim quebrar.
E lá foram de armas e bagagens
fazer muitas viagens
entre os dois lados do caminho.
Por isso, condutor, vai devagarinho,
não esmagues contra o chão,
mesmo que do tamanho de um botão,
quem no teu caminho se atravessa.
Pode ser que sejam desta peça!

Maria das Mercês Pacheco

3 comentários:

Su disse...

Que giro, Maria!!! Este ainda não tinha lido e adorei. Os desenhos do Barradas são outra delícia!

Maria das Mercês disse...

Obrigada :)

Anónimo disse...

Muito engraçado!!!

Renata