14/01/2010

Contos a Rimar II


Trilogia Medieval

I. D. Rangel, Cavaleiro


“Que o dragão padeça
de eterna dor de cabeça!”
– exclamou D. Rangel
do alto do seu corcel.
A luta, renhida, durava há meses
e tantas foram as vezes
em que o cavaleiro, esgotado,
pensara em renegar o triste fado
de ter de defender a sua dama,
(dona de beleza de grande fama!),
e partir para terras de além-mar
onde plantaria um pomar
e viveria, feliz, vida de camponês.
Mas tal não lhe permitiria D. Inês.
O dragão atormentava o castelo
e era preciso acabá-lo a fio de cutelo.
Pois qualquer cavaleiro que se preze
aos rogos da sua dama sempre obedece
e resigna-se com o destino
de ser feito em picadinho
por um dragão irascível
– que nem sequer é comestível!
E D. Rangel sonhava com as suas pantufas
refúgio de todas as lufa-lufas,
sentado num grande cadeirão
a apreciar um bom serão.
Mas no castelo D. Inês bradava
e do alto das ameias comandava
a luta mais desigual
entre o homem e o animal,
a luta sem fim nem razão
que iniciou esta grande confusão
em que D. Rangel, na sua armadura apertado,
se via a cada minuto confrontado
com a inglória sorte
de ter a terrível morte
do camarão que assa
debaixo de infernal brasa,
e ficar todo queimadinho
como o presunto torriscadinho
com que D. Inês se deliciava
enquanto ele por ela lutava.
E ao ver que a sua sorte
não rimou com a palavra morte
D. Rangel nem se queria convencer!
Mas isto é para mais à frente ler...

Maria das Mercês Pacheco


Estes contos começaram a ser escritos há uns anos, depois esquecidos e finalmente retomados. Publicação, nada. Não sou famosa, de acordo com as editoras sondadas. Ou então os contos não têm qualidade e ponto final....

Os desenhos são do meu amigo Carlos Barradas.

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