16/01/2010

Contos a Rimar IV


Trilogia Medieval

III. Do Ponto de Vista da Dama

Se do terrível dragão já falámos

e o valente cavaleiro já retratámos

– ambos entrincheirados numa luta desigual –

só nos resta a bela dama medieval,

D. Inês de sua mui bela graça,

mulher de porte alto e olhos de garça,

dama de um castelo alcandorado

numa colina junto a um lindo prado,

objecto de graciosa paixão

(quantas vezes lhe pediram a mão!)

de reluzentes cavaleiros na sua mocidade.

Não é que tenha agora muita idade...

é, sim, uma determinada senhora

que da paciência fez penhora

para governar a sua torre de Babel

e os humores do seu D. Rangel.

Isto sem falar no tal dragão

que todos os dias fazia tradição

de pelejar com o seu amado

– das 9 às 11 da manhã, o seu fado

era correr, ansiosa, para as ameias,

o sangue batendo veloz nas veias,

e esperar pelo fim do enredo

que não era nenhum segredo

pois D. Rangel vitorioso voltava

e, caindo no cadeirão, suspirava:

“Quase o matei desta vez!”.

Revirava os olhos D. Inês,

cansada de tanta repetição.

Por isso, quando o dragão

farto da peleja, avançou

e o seu amor declarou,

a nossa dama, mulher audaz,

logo aproveitou para fazer a paz

e uma boa amizade começar:

“Que importa se ele não tem o ar

imposto pelos demais?”;

logo com questões tais

D. Rangel concordou

e do seu cadeirão fundo suspirou.

Que isto de se viver uns com os outros

requer cuidados doutos

e se uma mulher assim quer –

pois quem disse que não pode ter?


Maria das Mercês Pacheco

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